Eleições no Brasil:
NO
SEGUNDO TURNO...
... a tarefa urgente que enfrentam os trabalhadores com consciência de classe e os revolucionários segue sendo de mobilizar poderosas ações operárias contra a fraude eleitoral, o perigo militarista e os ataques da burguesia inteira contra os explorados e os oprimidos. Os chamados para formar uma “frente democrática” e votar em Haddad do PT, o candidato da frente popular burguesa, só servem para socavar a necessária resposta proletária e revolucionária ao perigo representado por Jair Bolsonaro e seus partidários que querem impor uma saída militarista da crise brasileira.
Mal terminou o primeiro turno das eleições, verificando-se a grande votação no deputado ultradireitista para presidente, foi instaurado um pânico geral nas hostes da esquerda em todas as suas matizes. O ex-capitão, defensor da tortura e da ditadura militar, que não escondeu do eleitorado a sua homofobia, machismo e preconceito contra indígenas e negros, abocanhou 46% dos votos. O candidato do Partido dos Trabalhadores, Fernando Haddad, recebeu apenas 29%. Contra ambas as candidaturas burguesas no segundo turno, defendemos o voto nulo.
Os cabos eleitorais bolsonaristas vestem como uniforme camisas verde-amarelo que lembram os camisas pretas do fascismo italiano de Benito Mussolini e os camisas castanhas dos nazistas de Hitler. O nacionalismo xenófobo e racista do candidato da bancada da bala e seu vice, o general Hamilton Mourão, incita violência mortífera. No mesmo dia da votação, foi assassinado na cidade de Salvador (BA) o Mestre Moa de Katendê (Romualdo Rosário da Costa). O Mestre Moa, fundador do bloco Afoxé Badauê e um dos maiores mestres de capoeira no Brasil, recebeu 12 facadas de um adepto do candidato militarista, por haver criticado Bolsonaro e defendido Haddad.
Os ataques continuam. A Agência Pública (10 de outubro) contabilizou pelo menos 50 agressões físicas por partidários de Bolsonaro durante os primeiros dez dias de outubro. O perigo não se limita tampouco à segurança pessoal. Está se preparando uma intervenção militar em grande escala no país. Às vésperas do primeiro turno chegaram uns 94 blindados de combate no porto de Paranaguá, doados (!) pelo Pentágono norte-americano (infodefesa.com, 5 de outubro). Para que serviriam? Ataque à Venezuela? Defesa da “República de Curitiba”? O seguro, em todo o caso, é que seriam usados pela repressão interna. Da entrega anterior, no ano 2015, de 50 carros M113, vários foram usados ao tomar por assalto o Complexo do Salgueiro em São Gonçalo, RJ.
A realidade é que estamos presenciando uma ofensiva militarista internacional. Para confrontar e derrotar essa investida, precisa-se mobilizar uma força superior: a da classe operária internacional. São os trabalhadores os verdadeiros alvos do ataque capitalista, como foi o caso também do impeachment da presidente Dilma Rousseff. O propósito fundamental do acontecer político dos últimos anos é de impor pela força as “reformas” livremercadistas que estão exigindo a Bovespa e os banqueiros imperialistas. Pretender que se pode resistir ao fazer as pazes com setores do “centrão” e votar num candidato petista ainda mais moderado é uma ilusão perigosa.
O Haddad lidera uma aliança de “frente popular”, como foi o caso anteriormente de Lula e Dilma: uma coalizão de colaboração de classes que encadeia os trabalhadores, a esquerda, os negros, indígenas, mulheres, gays, lesbianas, trans e todos os oprimidos a um setor da classe dominante. O propósito dessa frente bicéfala (Frente Brasil Popular e Frente do Povo Sem Medo) é de impedir a radicalização da oposição ao ataque capitalista e desviar o temor justificado perante o avanço da ultradireita militarizada nos canais eleitorais que já no primeiro turno se revelaram um beco sem saída.
Vitória de Haddad nas urnas? Claro que o número de votos nulos, brancos e abstenção eram milhões. Mas depois de passar pelo enorme esforço para afastar a presidente petista do Planalto e para assegurar que o chefe histórico do PT não seria candidato em 2018, os donos do país vão permitir que um candidato petista conquista novamente a presidência? A única maneira de combater e derrotar a ameaça de um estado forte bonapartista, baseado nos aparelhos repressivos (militar, policial e judiciário), é com ações contundentes de luta classista.
Setores decisivos da burguesia querem esmagar o Partido dos Trabalhadores precisamente por ser um partido operário reformista, não importa o quanto direitista, entreguista e colaboracionista de classe ele seja. No entanto, a liderança desta legenda também quer esvaziar seu conteúdo de classe. A candidatura de Haddad é da frente popular burguesa, como ele está confirmando todos os dias. Em seu programa de televisão (12 de outubro), ele afirma que sua campanha “não é de um partido, é de todos os que querem mudar o país”.
E esse “todos” abarca toda uma gama de setores e políticos burgueses que ontem eram denunciados como “golpistas”. Já antes do primeiro turno Haddad visualizou um apoio do PSDB a sua candidatura sobre uma “agenda republicana”. Depois do dia 7 de outubro, ele abriu mão da proposta de uma assembleia constituinte. Não fala mais em revogar as “reformas” antioperárias do “presidente” Temer. De ser eleito, ele atacaria os direitos dos trabalhadores com também fizeram Lula e Dilma.
Hoje a esquerda brasileira em pânico defende, quase em uníssono, votar em Haddad. Além do PCdoB e PCB, o PSOL inteiro (Unidade Socialista, Resistência, Insurgência, MES, CST, LSR, EM, etc.), vários dos grupelhos trotskoides, e até a “esquerda coxinha” do PSTU, defendem votar no PT no segundo turno. Menção particular merece o Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT, da corrente internacional Fração Trotskista) que antes insistiu que nunca votou no PT, agora encontra-se “votando criticamente em Haddad” (“Declaração do MRT,” 10 de outubro).
Ainda mais expressiva é a justificação desses centristas: dizem que com seu voto no candidato petista “acompanhamos o ódio e a vontade de luta contra Bolsonaro”. Trata-se do seguidismo puro. Inclusive pretendendo que não dão “nenhum apoio à política do PT”, eles dão apoio político ao PT mesmo, e à frente popular que ele lidera. Mostra-se que, em apuros, toda a verborragia desses pseudo-trotskistas sobre a independência de classe se evapora.
Não é caso isolado. Quando ocorreu a facada contra Bolsonaro, a principal candidata do MRT declarou, em questão de minutos, que “Repudiamos o ataque ao candidato Bolsonaro” porque além das diferenças políticas “somos contrários aos atentados como método de luta política”. Mesmo que nos dias seguintes publicaram um artigo extenso citando Trotsky sobre o terrorismo, com esse repúdio o MRT se juntou ao resto dos candidatos de esquerda que juram obediência ao estado burguês.
Os trotskistas revolucionários somos contrários à violência dentro da esquerda e não defendemos o método dos atentados, entre outros aspectos porque não pode resolver a opressão violenta de todo o sistema de exploração, e com frequência é contraproducente, como neste caso, mas não vamos dar nenhuma solidariedade a esse criminoso nem bater continência na “democracia” burguesa que condena milhões à miséria imposta pelos fuzis policiais e militares.
Mesmo quando o MRT, tal como outras formações oportunistas, fala em organizar “comitês de auto-defesa” para “fazer frente ao avanço do autoritarismo e da extrema direita”, não lhes dá um carácter classista: poderiam ser o núcleo de comitês de frente popular, aglutinando diferentes forças políticas até burguesas. Os trotskistas revolucionários, pelo contrário, defendemos a formação de grupos de auto-defesa operária, baseados nas organizações de massas dos trabalhadores, principalmente os sindicatos.
A história ensina que não se pode derrotar forças
bonapartistas e até fascistas fazendo alianças com supostos
setores “democráticos” da burguesia. A experiência desde a
Guerra Civil Espanhola dos anos 1930 até a Unidad Popular de
Salvador Allende no Chile em inícios dos anos 1970, deu provas
mais do que suficientes que as frente populares levam à
derrota, de uma forma ou de outra. A tarefa urgente para
defender os oprimidos é romper com a burguesia, formar
organismos de poder operário e construir o núcleo de um
partido operário revolucionário, leninista e trotskista.
– Liga Quarta-Internacionalista do Brasil, 14 de outubro de 2018