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outubro de 2006 Após a bofetada do primeiro
turno, o companheiro presidente
Lula x Alckmin, candidatos do capital, capitaliza a confiança de Washington e Wall Street juntos contra os trabalhadores Votar nulo contra os burgueses e a frente popular! Forjar um partido operário revolucionário! Trabalhadores de Volkswagen do Brasil em São Bernardo do Campo deflagram greve no 31 de agosto contra o anúncio pela empresa do fechamento de uma usina e demissões em massa. (Foto: Andre Penner/AP)
Até mesmo
no dia da votação,
as pesquisas deram a Luis Inácio Lula da Silva a maioria dos
votos no primeiro
turno da eleição presidencial. Porém, o
cúmulo dos escândalos e a publicação
nos jornais matutinos da foto das pilhas de dinheiros do Dossiêgate,
causou
o efeito planejeado na classe média de São Paulo e do sul
do país, onde Lula
tinha minoria dos votos. Ainda com 48 por cento dos votos, foi
frustrada a
vitória triunfal de Lula. Seu
adversário, Geraldo
Alckmin, o candidato do Partido Social da Social Democracia Brasileira
(PSDB) e
da burguesia paulista, queria aproveitar o “voto moralista”, mas
não deu certo;
pretendendo mostrar força nos debates, seus ataques altaneiros
derramaram
preconceito em relação às pessoas comuns.
Após o susto da vitória-derrota de 1°
de outubro, o habitante atual do Palácio do Planalto fustigou a
elite
aristocrática de SP e mobilizou sua base entre os pobres
nordestinos. Não
poucos trabalhadores também, desiludidos dos quatro anos da
gestão lulista, mas
temerosos das conseqüências de uma vitória da direita
tradicional, votarão uma
vez mais em Lula. E logo o quê ocorrerá? Será a
guerra contra a classe
operária. O governo
burguês de frente
popular liderado por Lula e seu Partido dos Trabalhadores (PT) tem dado
grande
tranqüilidade aos capitalistas de Wall Street e da Bovespa,
notadamente aos
banqueiros, os quais auferiram enormes taxas de lucros em sua
gestão, chegando
a patamares históricos. Segundo a CUT, “tiveram crescimento de
25% do lucro
líquido, em relação ao ano passado e os maiores
bancos do país elevaram suas
receitas em R$ 11,5 bilhões somente nos últimos quatro
anos, um crescimento de
132,5%”. A foto do dinheiro do Dossiêgate impressionou o eleitorado de classe média no primeiro turno. No segundo turno influenciou mais o dinheiro de Wall Street, em apoio a Lula. (Foto: AP) Tanto que o
jornal Valor
Econômico (29 de setembro) divulgou o índice de Risco
Brasil, às vésperas
das atuais eleições o qual está medindo 233
pontos, oito vezes menos que media
às vésperas das eleições de 2002. Mesmo
assim Lula acha que deveria ter dado
mais lucro aos capitalistas e disse: “A única
frustração que eu tenho é que os
ricos não estejam votando em mim. Sabe? Porque ganharam dinheiro
como ninguém
no meu governo” (Lula, em entrevista ao Terra Magazine,
18 de
setembro). Lula bateu
continência a seus
amos capitalistas. Escreveu o Wall Street Journal (29 de
setembro): “O
Sr da Silva deve legislar uma revisão global das aposentadorias,
dos direitos
trabalhistas e do orçamento para reduzir um setor público
inchado, o que hoje
sujeita o Brasil a uma taxa impositiva comparável com um
país rico”. Como
anunciou em novembro 2002 aos sindicalistas reunidos no Hotel Sheraton
de São
Paulo logo após sua primeira eleição: “a partir de
agora acabou a moleza”.
Naquele então, tratou-se de atacar a “reforma” do sistema de
previdência dos
servidores públicos. Agora serão atacados os direitos de
todos os
trabalhadores, a gratuidade do ensino universitário
público e toda uma série de
conquistas operárias. A Liga
Quarta-Internacionalista do Brasil, seção da Liga pela
Quarta Internacional
(LQB/LQI), chama o voto nulo no segundo turno das
eleições presidenciais para
expressar uma oposição proletária tanto ao
candidato tucano como à frente
popular lulista, Força do Povo, coalizão
de colaboração de classes conformada pelo Partido
dos Trabalhadores
(PT), o Partido Republicano Brasileiro (PRB) do magnata José de
Alencar e sua
Igreja Universal do Reino de Deus, e o social-democrata Partido
Comunista do
Brasil (PC do B). Entre Lula e Alckmin não há mal menor
para os trabalhadores,
os dois representam os interesses do grande capital e do imperialismo.
Um
segundo governo Lula, como o primeiro, teria como tarefa impor as
medidas
antioperárias que os governos anteriores de direita não
conseguiram
implementar. A LQB insistiu
também nas
campanhas de 1994, 1998 e 2002 em não votar por nenhum candidato
de nenhuma
frente popular, embora a grande maioria da esquerda brasileira votasse
por
Lula, em alguns casos pretendendo ignorar que era candidato de uma
formação
política burguesa. Agora, desta vez, o caráter
abertamente direitista do
governo Lula foi tão notório, que um setor do PT rompeu
para formar o Partido
Socialismo e Liberdade (PSOL), para retomar a retórica mais
à esquerda do velho
PT. Mas o PT bis que é o PSOL continuou a prática
social-democrata petista,
inclusive buscando uma frente popular bis. Além de formar uma
Frente de
Esquerda com os pseudotrotskistas do PSTU (Partido Socialista dos
Trabalhadores
Unificado) e o PCB (Partido Comunista Brasileiro), paquerava com o PDT
(Partido
Democrático Trabalhista), que finalmente lançou seu
próprio candidato, o
ex-petista Cristóvão Buarque; e quando o PMDB (Partido do
Movimento Democrático
Brasileiro), decidiu não lançar candidato presidencial,
Anthony Garotinho, que
era candidato por este partido, decidiu apoiar a candidata do PSOL, a
senadora
alagoana Heloísa Helena. A campanha de
Helena e de seu
candidato a vice-presidente, César Benjamin, ex-conselheiro de
Garotinho, não
foi, em nenhuma medida, uma oposição de classe aos
candidatos capitalistas. Nem
sequer representou no tabuleiro de xadrez da política burguesa
uma alternativa
à esquerda da frente popular lulista. HH se opunha ao direito
das mulheres ao
aborto, denunciou os camponeses sem terra que invadiram o Congresso
Nacional
por ter montado uma “farsa radicalóide” e até criticou
Lula por falta de
“firmeza” frente à pretendida nacionalização de
instalações da Petrobrás pelo
governo boliviano de Evo Morales! Nós, trotskistas, que lutamos
pela revolução
permanente, pela tomada do poder pelos trabalhadores, a
expropriação do capital
por um governo operário-camponês e a extensão
internacional da revolução
socialista, insistimos que nenhum trabalhador com consciência de
classe poderia
votar no binômio reformista e frentepopulista Helena-Benjamin. Hoje,
após conseguir um 6,8
por cento dos votos no primeiro turno das eleições
presidenciais, a “Frente da
Esquerda” já não é mais frente. O PCB agita o
perigo de Alckmin, afiliado ao
organismo clerical ultra direitista Opus Dei, para justificar o voto
“crítico”
a Lula, o xerife do imperialismo ianque na América Latina.
Setores do PSOL –
entre eles Plínio de Arruda Sampaio, Ivan Valente e Chico
Alencar e
intelectuais como Francisco de Oliveira, anunciam que votarão em
Lula. O PSTU,
por sua parte, chama a voto nulo, mas com um critério puramente
burguês: “Lula
na verdade não tem nada a ver com um governo de esquerda.
É um governo de
direita, fantasiado de esquerda”, exprime o editorial de Opinião
Socialista
(No. 279, 1° de novembro). E se a política do governo da
frente popular lulista
fosse um pouco mais à esquerda? Isto é a continuidade da
política do PSTU que
votou em Lula no segundo turno das eleições de 2002, para
acompanhar as ilusões
das massas. Já
afirmamos em Vanguarda
Operária (No. 9, maio-junho de 2006): “Nesta atual
situação de pré-campanha
eleitoral, a Liga Quarta-Internacionalista indica que as principais
tarefas para os revolucionários proletários continuam
sendo a luta contra a frente
popular e suas ‘reformas’ antioperárias (trabalhista, sindical e
universitária), contra a burocracia pró-capitalista e a
favor da construção de
um partido operário revolucionário, objetivos que os
trabalhadores com
consciência de classe devem prosseguir em todas as
organizações de massas dos
trabalhadores, na CUT, na Força Sindical, na CGT e em sindicatos
afiliados à
Conlutas.” No dia 29 de outubro, chamamos aos trabalhadores a votarem
nulo
contra ambos os candidatos capitalistas pela presidência e para
preparar uma
ofensiva classista para afundar a investida antioperária dos
governos sob as
ordens de Wall Street e da Bovespa. Governo Lula: banquete
dos
banqueiros, migalhas para os pobres Lula feliz. Os ricos “ganharam dinheiro como
ninguém
no meu governo." (Foto: AFP)
O primeiro turno das eleições ocorreu em meio a inúmeras denúncias de corrupção que envolveram compras de supostos dossiês que incriminam o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, principal adversário de Lula nas eleições de 2002 e potencial adversário do PT nas eleições de 2010. O dossiê que o PT tentou comprar denuncia Serra como sendo um dos que iniciaram a Operação sanguessuga (o escândalo das ambulâncias). É indiscutível que o PSDB iniciou a corrupção do mensalão e das sanguessugas, o PT apenas continuou esta corrupção, principalmente não denunciando as falcatruas de Fernando Henrique Cardoso. É igualmente evidente que essa corrupção em grande escala foi necessária para a sobrevivência do governo Lula, que no começo ficou em minoria no Congresso. Ao final comprou-se um “frentão popular” que se estendia da enfraquecida esquerda petista até restos da ditadura militar (Maluf, Delfim Netto). Todas estas
campanhas
midiáticas concertada pela direita visavam enfraquecer o governo
e
eleitoralmente o PT. Até se envolveram nelas partidos da
esquerda como o PSOL,
PSTU e outros. Os trotskistas revolucionários, pelo
contrário, atacamos o
governo Lula por seus verdadeiros crimes contra os trabalhadores e
descobrimos
os cálculos políticos detrás desta manobra
moralizadora. Na realidade, como nós
comentamos: “A corrupção
é uma constante
na política burguesa. É a graxa que faz funcionar a
engrenagem da maquinaria do
estado capitalista para que o governo de turno possa servir como
conselho
executivo da classe dominante, integrando os interesses das diferentes
frações
da mesma. Ela molesta particularmente à pequena burguesia
‘decente’e
reformistas social-democratas porque revela a suja realidade
atrás da mitologia
da ‘neutralidade’do estado, dando provas concretas de como este estado
defende
os interesses do capital, não de ‘todos’”. –“Crise permanente da frente
popular: Lula contra os trabalhadores”, Vanguarda Operária
No. 9,
maio-junho de 2006 Mas as pesquisas
que medem as
tendências de votos só revelaram o fracasso das
táticas denuncistas da oposição
liberal de direita e o crescimento da candidatura Lula, que atribuiu ao
PT os
“erros” para proteger seu governo. Embora membros do núcleo duro
do PT ao redor
dele no Palácio do Planalto, como José Dirceu,
José Genoino, Palloci, Delúbio e
Berzoini, tenham caído como num efeito dominó a cada
denúncia. Como se salvou
Lula então em
meio da derrubada do PT? Foi em primeiro lugar devido ao apoio das
camadas
pobres que se beneficiavam de programas como Bolsa Família.
Alguns desses
programas assistencialistas, como Fome Zero, fracassaram por completo,
por
falta de verba. Mas a Bolsa Família chegou ao ano passado a 11
milhões de
famílias de renda baixíssima (abaixo de R$ 120 por
pessoa), com pagamentos de
até R$95 por mês. Na realidade, o custo ao erário
público é muito pouco,
totalizando R$ 10 bilhões, em comparação com os
mais de R$ 160 bilhões que
Brasil pagará em juros para a dívida pública (ver
Valério Arcary, “Argumentos
críticos sobre a Bolsa Família”, Correspondencia de
Prensa, 21 de
outubro). Mesmo com estes programas, no Brasil de Lula existe mais que
uma
população da Argentina de miseráveis. Segundo um
estudo da Fundação Getúlio
Vargas, “pobreza ainda atinge 42,6 milhões de brasileiros”. E
sobre tudo, este
tipo de programa é parte integrante do esquema “neoliberal”, que
substitui
pagamentos aos mais pobres à eliminação dos
direitos adquiridos dos
trabalhadores, como são as aposentadorias. Isto é a
encomenda mais
importante proferida pelas altas finanças e as cúpulas
imperialistas a um
eventual segundo governo Lula. O Delfim Netto, economista da ditadura
militar,
hoje convertido em conselheiro de Lula e deputado do PMDB, explicou em
entrevista na Folha de S. Paulo (26 de agosto) seu voto pelo
ex-sindicalista “para terminar o que começou”. “Há duas
reformas que precisam
ser feitas e só o Lula pode fazer”, prossegue, a reforma da
Previdência e a
trabalhista. “Só o Lula pode produzir essas duas reformas,
porque o trabalhador
acredita nele.” Um dos dirigentes dos empresários pró
Lula, Laurence Pih,
explicou ao jornalista Josias de Souza da Folha (em seu blog do
12 de
julho) que tipo de “reforma” trabalhista querem os patrões:
“É importante
desonerar a folha. As contribuições sociais chegam a
quase 100% dos salários.”
Buscam cassar direitos, eliminar “privilégios” na
previdência. E não são
capitalistas menores os que apóiam Lula: Pih é dono do
maior moinho de trigo da
América Latina; seu vice José Alencar é um
industrial têxtil renomado “rei das
camisetas”, e agora recebe o aval de Blairo Maggi, governador do Mato
Grosso,
conhecido como o “barão da soja”. É
notável o apoio que o chefe
do PT recebe dos capitães da agroindústria, em recompensa
pelas subvenções
bilionárias do governo a esse setor. Ao contrário, como
escrevemos em VO
No. 9, “No campo, a fala do PT de reforma agrária tem dado
resultado nulo. A
estrutura da propriedade rural, uma das mais desiguais do mundo,
não mudou um
pingo.” Somente cerca de 127.000 famílias camponesas receberam
terra do governo
Lula até o fim de 2005, e só 27.000 em assentamentos da
reforma agrária. Isto
fica bem longe dos 400.000 assentados que lhe pediu o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no começo do governo do companheiro
presidente. Além disso, um estudo recente da
Organização Internacional do
Trabalho, Trabalho escravo no Brasil do século XXI,
avalia que há
atualmente entre 25.000 e 40.000 trabalhadores forçados em
situações de
escravidão no Brasil, a grande maioria nas zonas rurais. Na
última década houve
denúncias de 34.000 casos de trabalho escravo e foram libertadas
18.000
pessoas, mas somente no final de outubro se deu a primeira
condenação jurídica. Não
surpreende então, que após
nove anos da chacina de Eldorado dos Carajás (PA), onde foram
massacrados 19
trabalhadores sem terra, nenhum dos soldados e oficias estejam
presos. E agora
José Rainha, o ativista emblemático do MST é
condenado à prisão pela quinta
vez. Mesmo assim, João Pedro Stédile, o dirigente do MST,
pede votos por Lula.
Stédile disse, e são os mesmos argumentos do resto da
esquerda petista (Emir
Sader, Frei Betto): “A candidatura Alckmin, que
representa os interesses do capital financeiro, das transnacionais, do
governo
Bush, da burguesia brasileira e dos fazendeiros do agronegócio,
está ansiosa
para retomar as rédeas do governo. “Defendem todos os dias nos
jornais ser preciso seguir privatizando Petrobras, Correios, estradas e
bancos
estaduais. Querem as reformas trabalhista, tributária e da
Previdência para
ampliar seus lucros. Propõem a garantia do pagamento de juros
dentro da
Constituição pelo mirabolante plano déficit zero.
Recolocam a Alca [Área de
Livre Comércio das Américas] como uma necessidade – e,
assim, subordinariam ainda
mais nossa economia e o país aos interesses do império. “E, se os pobres ousarem
lutar, chamarão os ‘capitães-do-mato’ e oferecerão
polícia e cadeia. Por isso,
os movimentos sociais e todos os seus militantes devemos nos mobilizar,
arregaçar as mangas e ir para as ruas para derrotar a
candidatura Alckmin e os
seus interesses de classe.” –Folha de S. Paulo, 10
de outubro de 2006 Todas as
acusações de Stédile
contra Alckmin são justas; porém, as mesmas
são válidas contra Lula também.
O Lula representa, sem dúvida alguma, os interesses do capital
financeiro, das
transnacionais, do governo Bush, de setores chaves da burguesia
brasileira, do
agronegócio; ele também está privatizando a
Petrobrás, Correios e bancos,
gradualmente, mas certamente; ele também está
impulsionando as reformas
trabalhista, tributária e da previdência; Lula já
está pagando, inclusive
antecipadamente, os juros com déficit zero (inclusive com
superávit primário),
sem precisar de uma emenda da Constituição e segue
negociando a ALCA com o
império. Quanto aos capitães-do-mato, a justiça no
regime de Lula não fez nada
contra jagunços como o Primeiro Comando Rural, agora que para os
militantes do
MST só existem a polícia e a cadeia. Lula x Alckmin –
são dois
candidatos com um programa, capitalista, contra os trabalhadores. Ao
contrário
do que disse o líder dos Sem Terra, os militantes classistas
devem “arregaçar
as mangas” para lutar contra a frente popular e o Partido dos
Trabalhadores a
serviço dos patrões e a favor de um partido
operário revolucionário para
encabeçar a revolução (e não
somente reforma) agrária por meio de
um governo operário e camponês, como ponto de
arranque da revolução
socialista mundial. A campanha
reacionária de
Heloísa Helena
Ao nível
internacional, Lula
tem sido o principal ponto de apoio do imperialismo estadunidense na
América
Latina. Ele é elogiado por George Bush, o sanguinário
carniceiro do Iraque. No
Haiti, um corpo expedicionário brasileiro disfarçado como
“forças do
mantenimento da paz” da ONU atua como tropas mercenárias dos EUA
para manter uma ocupação
colonial da primeira
república negra do mundo. Em julho do ano passado, militares
brasileiros da
MINUSTAH realizaram uma investida na favela Cité Soleil,
assassinando no mínimo
19 moradores. Recentemente, logo após a
intensificação das incursões da
MINUSTAH, houve protestos de estudantes na capital haitiana,
Port-au-Prince,
exigindo a saída da ONU. A LQB tem lutado insistentemente pela
expulsão das
tropas brasileiras de ocupação do Haiti. Também
defendemos o direito da Bolívia de expropriar as
instalações no país vizinho da
Petrobras, empresa capitalista multinacional com sede
no Brasil e a maioria de suas ações adquiridas por
acionistas da Bolsa de
Valores de Nova Iorque. O Lula, embora, diante do anúncio pelo
ministro
boliviano de minas e energia do repasse de duas refinarias empossadas da
Petrobras a prestadores de serviços, respondeu assim: “Eu tenho
a nítida noção
da supremacia brasileira diante da Bolívia.... Quando conversei
com o Evo
Morales [presidente da Bolívia], eu peguei o mapa da
América do Sul e mostrei a
situação da Bolívia, onde estava a Venezuela. Eu
disse ‘não adianta colocar a
espada na minha cabeça, se eu não quiser o gás de
vocês, vocês vão sofrer mais
que nós’” (Folha de S. Paulo, 18 de setembro). Foi a
resposta de um
mandatário capitalista de um país que pretende ser
superpotência regional.
Devido à ameaça de Lula, a medida foi cancelada e o
ministro boliviano
defenestrado. Foi muito
instrutiva a
resposta dos candidatos da oposição frente à
ação boliviana. O direitista
Alckmin do PSDB caracteriza a resposta de Lula como submissa, omissa e
fraca. O
comentário de Heloísa Helena, candidata da Frente de
Esquerda, foi do mesmo
tom, ao criticar “a incompetência e irresponsabilidade do governo
Lula” (Folha
on line, 14 de setembro de 2006), dizendo que “faltou firmeza” por
não ter
insistido com Morales sobre “compensação que seria dada
à indústria nacional”
(reportada no site da campanha de HH, www.heloisahelena50.com.br, agora
desativado). Assim, a
candidata do PSOL,
PSTU e PCB criticou Lula desde a direita, por não ter sido
suficientemente
forte na defesa dos interesses “nacionais” do Brasil e de uma empresa
multinacional! Frente a tal espetáculo, o mesmo PCB comentou de
Heloísa Helena
(numa resolução do dia 6 de outubro sobre o segundo turno
das eleições
presidenciais): “seu discurso, muitas vezes, não se diferenciou
da candidatura
da oposição burguesa, sobretudo nas questões
internacionais”. Esta não
foi a única “bravata”
direitista da candidata da Frente de Esquerda. Em uma entrevista na TV
no “Jornal
Nacional” da Rede Globo (8 de agosto), falou-se da reforma
agrária. À pergunta
se ela “vai tomar terras de proprietários rurais que produzem e
empregam” como
sugere o programa do PSOL, HH respondeu: “Eu não posso meu amor,
porque a
Constituição proíbe. Programa de partido se trata
de objetivos estratégicos do
partido. Não tem nada a ver com programa de governo. Seria
impossível fazer a
expropriação de terra, a não ser que tenha
trabalho escravo ou plantação de
maconha”. Além
disso, quando centenas de
camponeses do Movimento de Libertação dos Sem Terra
(MLST) ingressaram à Câmara
dos Deputados num protesto no dia 6 de junho passado, resultando na
prisão de
539 trabalhadores, a honorável senadora alagoana sentenciou sua
ação como “uma
farsa radicalóide” e se erigiu em defensora deste covil de
ladrões, o Congresso
Nacional: “Então, por que vir para cá? Qual é a
justificativa de vir ao
Congresso Nacional?” pergunta Helena. “O endereço está
errado. Quem desmoraliza
o Congresso Nacional é a turma dos dólares nas
peças íntimas do vestuário
masculino, é a turma da remessa de bilhões de
dólares para os paraísos fiscais
para pagar contas do Sr. Lula.” Assim isenta o Congresso dos
sanguessugas e do
mensalão de responsabilidade pela falta da reforma
agrária. Perguntada em
sua entrevista
no “Jornal Nacional” da Rede Globo, logo após declarar que
“seria impossível”
expropriar terras produtivas (salvo se produzem maconha!), “que outros
itens do
seu programa, do partido que a senhora ajudou a fundar, a senhora
poderia dizer
que não pretende cumprir”, a “socialista cristã”
responde: “eu sou uma
socialista por convicção, eu digo sempre que aprendi na
bíblia antes de ler os
clássicos da história socialista a ser uma socialista”,
mas “seria
desonestidade intelectual da minha parte e desconhecimento de toda a
tradição
socialista dizer que eu vou implementar o socialismo.... Hoje eu luto
pela
democracia. A democratização da riqueza, das
políticas sociais”. Como parte de
sua luta pela
“democracia ampliada” (nem sequer a democracia “participativa” da qual
se
ufanava o PT, para aprovar orçamentos “populares” de cortes de
serviços
sociais, como em Porto Alegre), a “socialista ética” HH se
opõe ao direito
democrático da mulher ao aborto. Em uma entrevista no
“Jornal da Globo” da
madrugada (1° de setembro), ela apregoa: “Para mim, do ponto de
vista
científico e do ponto de vista espiritual, sou contra o aborto.”
E não só isto,
se opõe também as pesquisas médicas que utilizam
células retiradas de embriões. Em favor da
“democracia” também
a candidata pronunciou-se pela “auditoria cidadã” da
dívida externa aos bancos
e governos imperialistas e não pela abolição ou
rejeito da mesma. Quando esteve
a ponto de se deflagrar uma greve dos operários da Volkswagen, a
senadora pede
a ajuda do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social) para
financiar a empresa multinacional. E opina que a
renacionalização das empresas
privatizadas por FHC, como a multinacional da mineradora Vale do Rio
Doce, como
pede o PSOL, é outro caso de um programa de partido que
não será implementado. Ou seja, temos
aqui uma
candidatura “socialista” contrária à reforma
agrária em terras produtivas, ao
não pagamento da dívida imperialista, ao aborto, à
investigação científica como
células tronco, à renacionalização das
empresas roubadas, e defensora dos
interesses “nacionais” da empresa privada multinacional Petrobras!
Embora, além
de suas posições políticas que a coloca à
direita de vários políticos
burgueses, Heloísa Helena sempre buscava aliados nos partidos
capitalistas.
Primeiro cortejava o PDT (Partido Democrático do Trabalho),
herdeiro do velho
caudilho populista Leonel Brizola, a ponto de ser convidado à
convenção
nacional do partido representante da tradição
“trabalhista” burguesa (ao qual
entrou um dos deputados fundadores do PSOL, João Fontes). Logo no meio da
campanha, HH
recebeu o apoio de Anthony Garotinho, ex-governador do Rio de Janeiro
(e esposo
da atual governadora Rosinha Garotinho), os dois responsáveis
pela reiterada
repressão das greves dos professores cariocas. Na realidade, a
campanha de
Heloísa Helena foi uma frentinha popular dos corredores com a
oposição de
direita a Lula, como já se estabeleceu durante o escândalo
do mensalão. Nenhum
trabalhador consciente de classe, e muito menos um
revolucionário pode dar
apoio político a tal abominação, meu
amor. Os
satélites “de esquerda” do PSOL, rebotalho do PT
Quanto a seus
aliados do PSTU,
os morenistas tiveram a tarefa triste de tentar justificar “sua”
candidata.
Embora estejam bem adestrados na apologia do frentepopulismo: fazem
hoje para
Heloísa, o que durante anos faziam para Lula, tentando limpar a
barra de seu
chefe de legenda e dar-lhe uma imagem de “esquerda” não
merecida. O soldo deste
oportunismo é o de engolir uma traição após
outra. E para quê? Seu galanteio
dos ex-petistas que agora são do PSOL, data da época
quando todos formavam
parte das correntes “de esquerda” dentro do PT. Porém, em cada
momento os
morenistas foram frustrados em suas tentativas de formar um partido
mais “amplo”. No momento da
expulsão de HH e
seus companheiros parlamentares do PT (Babá, Luciana Genro,
Fontes), o PSTU
propunha formar um “novo partido”. Quando aquele projeto falhou, o PSTU
sugeriu
uma legenda comum, com José Maria Almeida como vice de
Heloísa.O PSOL seria o
partido parlamentar (para não dizer, parlamentarista), o PSTU se
encarregaria
da mobilização na rua. Outra negativa da PSOL. É
uma história de eterno amor
recusado, que se segue repetindo porque corresponde à
política seguidista dos
morenistas de sempre ser a ala “de esquerda” de uma força
pequeno-burguesa ou
até burguesa, seja o peronismo na Argentina, o sandinismo na
Nicarágua ou a
“família” petista no Brasil. Como escrevemos no momento da
formação do PSOL: “O novo partido
é, sem nenhuma
dúvida, outro partido social-democrata, ligeiramente à
esquerda do PT, que se
rege pelas regras do jogo parlamentar da burguesia. É
precisamente desta
categoria de ‘partido do velho tipo’, eleitoreiro até a medula,
que não
necessita a classe operária brasileira. Adestrado na luta, por
influência por
trás dos bastidores, será um satélite de Lula,
tomando iniciativas para
pressioná-lo (e talvez recrutar alguns dos esquerdistas que
permanecem nas
filas, nas poltronas ministeriais do PT) em lugar de preparar o
proletariado
para sair vitorioso de um enfrentamento frontal com o governo
burguês”. –“Não
precisamos de um ‘novo
partido’ social-democrata dos lulistas desiludidos!” (junho de 2004,
reproduzido sob o título “Abaixo o frentão popular de
Lula”, em Vanguarda
Operária No. 8, janeiro-fevereiro de 2005.)
Se o PSTU
reformista atua como
satélite girando ao redor do PSOL – a política de
girassol, diríamos nós
– outros grupos menores de tipo centrista estão na órbita
do PSTU. A Liga
Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional (LER-QI)
– afiliada à Fração
Trotskista, corrente neomorenista dirigida pelo PTS (Partido de
Trabajadores
por el Socialismo) argentino – tem como norte de sua política o
esforço de
instar o PSTU a lutar. Assim apoiaram incondicionalmente a corrente
sindical
impulsionada pelo PSTU, a Conlutas, chamando a formar um mítico
“polo
antiburocrático” nela. Na atual campanha eleitoral, primeiro
pediu ao PSTU
formar uma “ala classista na Frente de Esquerda”, que consistiria em
que “O
PSTU precisa criticar não só César Benjamim, mas
principalmente Heloísa
Helena.... inclusive matérias pagas nos jornais de grande
circulação”.
Fracassada esta táctica, a LER-QI decidiu chamar “vote
criticamente nos
candidatos operários da Frente de Esquerda” – que seriam
principalmente os do
PSTU e do “setor operário do PSOL”, consistindo este em
ex-membros da LER-QI
que migraram para o partido de HH para melhor praticar sua
política seguidista.
Para presidente chamaram a votar no candidato do Partido Causa
Operária (PCO),
com o qual não tem nenhuma coincidência política
(devido ao rechaço do PCO a
Conlutas). Agora chamam tristemente pelo voto nulo no segundo turno. Outro grupo
centrista no
pântano oportunista é a Liga Bolchevique Internacionalista
(LBI), cuja
especialidade é uma política de constantes manobras
“unitárias” com as mais
diversas (e contraditórias) correntes políticas. A LBI
também é uma fã
incondicional da Conlutas, atuando como conselheira do PSTU, pedindo
que rompa
com a frente popular, adota uma política mais combativa, etc,
etc. Neste
período eleitoral, a LBI começou com uma “Carta Aberta ao
PSTU” onde fazia um
chamado para que este postulasse Zé Maria como uma
“anti-candidatura”
revolucionária, inclusive “reorientando-se programaticamente”.
Quando recebeu dos
morenistas uma quitação de não
recepção, mudaram de táctica e lançaram um
apelo
por um bloco podre de todas as correntes que apoiavam o voto nulo nas
eleições
(o que poderia estender-se dos anarquistas até
formações burguesas), com ênfase
na crítica à candidatura de Heloísa Helena. Logo depois de 2
de outubro,
lança um novo apelo para uma “Conferência Nacional de
Emergência” de todos os
que chamam pelo voto nulo no segundo turno, propondo novamente
ao PSTU e
outros que apoiaram à “socialista católica” HH no
primeiro turno a “adotarem um
programa revolucionário de ação direta”! Nas
eleições de 2002, a LBI chamou ao
“ativismo classista” (categoria que abarcava até quem votou por
Lula) antes
mesmo do primeiro turno da votação a “deflagrar uma ampla
mobilização
nacional...contra a fraude” para impor a presidência de Lula. E
em julho
passado, chamou uma “greve nacional para derrotar a fraude eleitoral”,
ou seja,
para impor a presidência do político burguês
mexicano López Obrador!! Além de
suas manobras
oportunistas com forças burguesas “contra a fraude” (e no Brasil
no ano passado
contra o “governo-mensalão”) e sua reiterada rogatória ao
PSTU de adotar uma
política “revolucionária”, o frentismo constante da LBI
é fundamentalmente
contrário ao trotskismo autêntico. Trotsky mesmo comentou,
com respeito à luta
contra o avanço do nazi-fascismo na Alemanha nos anos 30, que a
frente única na
ação é contrária aos blocos de
propaganda. Referindo-se a um arranjo entre
vários dirigentes centristas na época, o dirigente
bolchevique escreveu: “Dirão-nos que o bloco
entre
Rosenfeld-Brandler-Urbahns é somente um bloco de propaganda pela
frente única.
Porém, é precisamente na esfera da propaganda onde um
bloco é inadmissível. A
propaganda deve apoiar-se nos princípios claros e um programa
definido. Marchar
separado, golpear juntos. Um bloco é somente para as
ações práticas de massas.
Os arranjos negociados desde cima que faltam uma base nos
princípios só
levariam à confusão. “A idéia de nomear um
candidato a presidente na base de frente única operária
é falsa nas raízes. O
candidato só poderia ser lançado na base de um programa
definido.” –Leon Trotsky, E agora?
Questões vitais para proletariado alemão (janeiro de
1932) Concluímos
nossa excursão na
esquerda reformista e centrista ao dar uma olhada no Partido Causa
Operária. O
PCO lançou para presidente seu dirigente Rui Costa Pimenta, como
também fez em
2002. Durante muitos anos este partido defendeu Lula, separando-o
metafisicamente e de forma menchevique da frente popular. Tecendo loas
ao
“candidato operário” desta frente com forças burguesas,
contradizia a
compreensão trotskista da frente popular, coalizão de
colaboração de classes,
como uma formação política burguesa.
Só recentemente o PCO resolveu
desgarrar-se de Lula, mas continua procurando um retorno ao velho PT,
com seus
chamados por um “partido operário de massas”. Também
é significativa sua
fórmula de “lutar por um governo de trabalhadores”, no lugar da
palavra de
ordem trotskista de governo operário-camponês. Este
significa, diziam os
bolcheviques, nada menos que a ditadura proletária, agora que as
tarefas que o
PCO atribui a seu “governo de trabalhadores” são medidas
típicas de um governo
social-democrata do estado capitalista: fim das
privatizações,
estatização da saúde e da educação,
“um verdadeiro plano nacional contra a
fome”, etc. O governo de
Lula tentou
impugnar a candidatura de Costa Pimenta alegando uma
infração dos regulamentos
do Tribunal Superior Eleitoral, que a meados de agosto votou o
indeferimento da
candidatura. Os revolucionários defendemos o direito de todo
partido, e
particularmente aqueles que se reclamam do movimento operário,
de apresentar
seus candidatos nas eleições burguesas supostamente
“democráticas”, ao mesmo
tempo em que criticamos a política social-democrata e não
revolucionária da
campanha do PCO. Além de apoiar durante anos às
diferentes frentes populares
constituídas pelo PT de Lula, Causa Operária tem adotado
a política de por sua
legenda a disposição de vários elementos
carreiristas oriundos do PPS, PDT e
outras legendas burguesas. A realidade
fundamental de
todos estes grupos geralmente considerados da “extrema esquerda”
é que tem sua
origem no Partido dos Trabalhadores lulista, e anseiam os bons velhos
tempos
quando se lhes permitiam fazer seus arranjos e suas manobras nos
corredores,
dando-lhes a ilusão de influência e poder. Embora, seu
marco de referência é um
partido parlamentarista até a medula, social-democrata, que
busca se afiançar
no regime político burguês. Todos (PSOL, PSTU, PCO e seus
irmãos menores LBI,
LER-QI, etc.) fazem em pequena escala o que a equipe de Lula fazia na
cúpula do
PT anos atrás. Agora querem recriar o PT antes deles fossem
expulsos em série
(PCO em 1989, PSTU no início dos anos 90, PSOL em 2004).
Porém, se alcançassem
suas fantasias, somente assentariam as bases para uma
repetição desta história
de degeneração. O que o proletariado brasileiro precisa neste momento, quando enfrenta uma ofensiva capitalista em toda a linha contra suas conquistas e sua existência mesma , não é uma nova edição do PT. Já fizeram essa experiência. É urgente forjar um partido operário baseado no programa trotskista da revolução permanente, que luta pela revolução agrária, pela libertação de todos os oprimidos – mulheres, negros, indígenas, homosexuais – mediante a revolução socialista internacional. Por isto luta a Liga Quarta-Internacionalista do Brasil. n
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