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Vanguarda Operária

abril de 2005 

Após os assassinatos no Pará e Goiás

Chacina na Baixada Fluminense:
Mobilizar a força da classe operária!

Fora PM! Toda polícia é braço armado da burguesia
Pela autodefesa operária e camponesa!

Parente dos vítimas em protesto em Nova Iguaçu, o 2 de abril, contra a massacre da Baixada Fluminense. (Foto: Silvia Izquierdo/AP)

Boletim da Liga Quarta-Internacionalista do Brasil, seção da Liga pela Quarta Internacional.

15 de ABRIL No terceiro ano do governo de frente popular, o país  esta submergindo numa onda de assassinatos e massacres.  No dia 12 de fevereiro, uma religiosa norte-americana nacionalizada brasileira, Dorothy Stang, foi morta com três disparos numa emboscada acontecida em uma estrada de terra no municipio de Anapu (Pará). A freira Stang era agente da Comissão Pastoral da Terra na região. Poucas horas depois deste crime, na mesma localidade foi assassinado Adalberto Xavier Leal, ativista dos camponeses sem terra. Três dias após, foi morto a tiros o ex-presidente do Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra em Parauapebas (Pará), Daniel Soares da Costa Filho. Logo, o 16 de fevereiro, durante a desocupação de um terreno ocupado na cidade de Goiânia, a Polícia Militar matou duas pessoas, ferindo  uma vintena e detendo  mais de 800 moradores do acampamento, organizado por um movimento dos sem teto. Agora, na noite de 31 de março, um grupo de extermínio policial lançou uma verdadeira caravana da morte na Baixada Fluminense no estado de Rio de Janeiro. Fuzilaram  30  pessoas, deixando um rio de sangue nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados.

Que os autores destes crimes sejem pistoleiros contratados pelos fazendeiros, soldados obedecendo ordens dos oficiais ou escadrões da morte policiais não muda o fato que todos são atos de terrorismo burguês. E o responsável em última instancia é o governo capitalista presidido por Luis Inácio Lula da Silva e seu Partido dos Trabalhadores.

A chacina da Baixada foi a pior matança na história de Rio de Janeiro, ao superar largamente o número de mortos no massacre de Candelária, de julho de 1993, quando oito meninos e jóvens, moradores de rua, foram assassinados por PMs frente à igreja famosa no centro mesmo do Rio: também sobrepasou as mortes do massacre de Vigário Geral, acontecido em agosto do mesmo ano, quando foram mortos 21 trabalhadores e estudantes por uma banda de ao menos 40 polícias, como vingança pela morte de quatro PMS numa emboscada de traficantes de droga no dia anterior. A carnificina recente causou um asombro horripilante em toda a região. É o mesmo tipo de assassinatos  que utilizam os PM para aterrorizar às favelas de Rio, supostamente para combater “criminosos” e as bandas do tráfico de drogas. Neste caso,  embora, atacaram bairros populares de uma importante região industrial, atirando contra os moradores a esmo. É um retorno à época no começo da ditadura militar quando surgiram os “escadrões da morte” e a Baixada tinha fama de ser o “faroeste fluminense”. Foi um ataque contra os trabalhadores e os pobres cometido pelos cães de guarda  do capital.

O maremoto de horror começou no dia 30 de março, quando alguns PMS mataram  duas pessoas, as decapitaram vivas, e jogaram a cabeça de um deles dentra da sede da 15a Brigada da Polícia Militar em Duque de Caxias. Este ato teria sido uma revanche pela prisão de uns 15 policiais da região desde fevereiro, no marco de uma campanha (a Operação Navalha na Carne) contra a corrupção e os crimes da PM. O ato macabro foi filmado em um video de segurança de uma escola vizinha, e resultou  prisão de oito PMS quinta-feira, dia 31, e logo na orgia de sangue naquela mesma noite. As primeiras vítimas foram dois ciclistas na Rodovia Dutra. Logo fuzilaram  um cozinheiro que andava pela rua, e a dois trasvestis perto de um hotel. Passaram por um fliperrama, onde mataram  nove pessoas. Após assassinarem um total de 18 pessoas em Nova Iguaçu, a maioria delas jóvens, practicamente ninguem com antecedente penal, foram a cidade vizinha de Queimados, onde passavam fusilando gente na rua, em outro bar, e em dois lava-jatos.

Foi um ato monstruoso de força e de impunidade. Os matadores nem sequer se preocuparam em esconder os rostos: viajavam à cara limpa.Vários deles já eram conhecidos pelos moradores como integrantes de grupos de extermínio.

Após os enterros coletivos sexta-feira, 1 de abril, no sábado os parentes e vizinhos marchavam com cartazes inscritos com os nomes das vítimas, atrás de uma faixa que reclamava: “Basta de massacres! O povo de Rio exige justiça.” Mas, quem faria justiça? O prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farías do PT, esfregou as mãos, se queixando das “cenas inaceitáveis” e exigindo “uma linha de investigação que peça forças especiais, forças federais. Deve-se montar uma força-tarefa” (O Dia, 2 de abril). A governadora, Rosinha Garotinho do PMDB, lamentou “como mãe” os monstruos que quitaram a vida de crianças inocentes e reivindicou uma investigação rigorosa. O presidente Lula, com temor de que “seu governo possa ser visto no exterior como incapaz de conter e punir os chamados crimes contra os direitos humanos”, exigia de seus ministros um “acompanhamento permanente” das investigações. Desde Brasília anunciou que uns 400 a 600 homens da Força Nacional de Segurança seriam enviados à região.

Para quê? O governo estadual do Rio já destacou uns 250 PMs adicionais, entre eles forças do Batalhão de Choque, Batalhão de Operações Especiais (Bope), Grupamento Especial Tático Móvel (Getam), Grupamento Aeromarítimo (GAM) e Grupos de Ações Táticas (GATs). Montavam barragens nas ruas e faziam buscas domiciliares como sempre. Um crime da polícia militar? Então, enviam mais PMs para perseguir a população! A realidade é que todos estes corpos fomam parte de um só aparelho repressivo, o punho armado do estado capitalista, que proteje os intereses da alta burguesia que mora em suas fortalezas cercadas de grades e viaja em carros blindados. Os sanguinários PMs atuavam na Baixada como sempre atuam nas favelas do Rio: tem licença para matar, e o sabem. Diante deste crime do estado seria suicida pedir uma investigação ou a “proteção” do mesmo estado burguês. Não altera as coisas o fato de ser presidido neste momento pelo PT, que longe de dar proteção aos interesses dos trabalhadores e dos moradores dos bairros pobres, hoje é cão de estimação dos banqueiros e dos capitães da indústria brasileira e de seus amos imperialistas ianques.
Este massacre, como todos os anteriores, confirma uma vez mais o fato inegável do que é a polícia mesma, e não alguns indivíduos, que organizam os grupos de extermínio. Frente à onda de reprovação do novo crime bárbaro, os comandantes da PM do Rio intentaram inserir-se nos protestos para manifestar cinicamente seu “pesar”pelos mortos. Assim no sábado, 9 de abril, tropa uniformizada da Polícia Militar marchava atrás de uma faixa que proclamou, “O 24° BPM se solidariza com a comunidade de Queimados”. Parentes e amigos das vítimas ficaram tão desgostos pela participação dos policiais que saíram do protesto, particularmente quando houve um abraço  frente ao Batalhão. Um deles “desistiu de participar da manifestação em Queimados porque não aceitava caminhar lado a lado com representantes da Polícia Militar” (“Relação em Crise”, Viva Favela, 9 de abril). Tem razão. A participação dos PMs no protesto foi um insulto, mas a mesma presença da Polícia Militar é o principal causante da carnificina.

Temos que nos basear na força da classe operária, ao montar uma poderosa mobilização para exigir, fora PMs! Toda polícia é o braço armado dos exploradores e opressores! Apelamos aos sindicatos do Rio de Janeiro em primeira linha para iniciarem e organizarem a autodefesa operária nos bairros de trabalhadores contra os embates de seu inimigo de classe, em estreita ligação com a autodefesa camponesa dos trabalhadores agrícolas e dos sem terra contra os jagunços dos fazendeiros.

Isto não é nenhum sonho impossível, mas sim uma perspetiva bem concreta. Não obstante Nova Iguaçu, Queimados e outros municípios da Baixada Fluminense serem atingidos pela miséria, com índices sociais bem abaixos do resto do estado de Rio, a região têm importantes setores industrias: refinaria e pólo químico (da Petrobras) em Duque de Caxias, plantas de energia termelétrica e hidroelétrico de Paracambi (da Light); fábricas metalúrgicas do Sul Fluminense; parques industriais. Os vários milhares de petroleiros em Caxias têm um poder enorme. Na histórica greve de 1995, resistiram durante mais de um mês a investida do exército, que ocupou a planta. Recentemente estiveram em greve no dia 31 de março. Se o Sindipetro-Caxias entrar em luta, formando grupos de defesa operária frente ao terror policial, teria um impacto nacional. Outro sindicato importante, amplamente presente na zona, é o SEPE-RJ, dos trabalhadores da educação, em contato direto com os moradores dos bairros afetados pelo massacre do dia 31 de  março e o açoite constante da violência policial.


É preciso unir os explorados e oprimidos sob liderança proletária, que requer uma luta tenaz para romper a garra da burocracia sindical pro-capitalista, sobre tudo neste momento quando pretendem apertar o controle do estado e degolar os combativos sindicatos mediante a “reforma sindical e trabalhista”. Sobre tudo urge forjar um partido operário revolucionário para varrer o governo da frente popular de Lula e abrir o caminho a um governo operário e camponês como se formou na Rússia na Revolução de Outubro de 1917 sob os bolcheviques dirigidos por Lenin e Trotsky. n



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