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abril de 2005 Cai o “ditocrata”
Gutiérrez...
Equador:
quebrar o ciclo infernal, E logo instala-se um novo presidente igual lutar para a revolução socialista!
A
“rebelião dos
foragidos”: uma análise marxista
--traduzido
de El
Internacionalista n° 5, maio de 2005, orgão no
espanhol da Liga pela Quarta Internacional. 26 de
ABRIL – Pela terceira vez em menos de uma década, um presidente
equatoriano é
jogado fora do poder devido às manifestações de
rua explosivas... e em seu
lugar é instalado outro líder burguês, não
menos reacionário, orquestrado pelos
altos escalões do exército e a embaixada estadunidense.
Abdalá Bucaram em 1997,
Jamil Mahuad em 2000 e agora Lúcio Gutiérrez: em cada
caso eles foram
destituídos depois de meses de protestos irados contra suas
políticas de
austeridade, corrupção e entreguismo ao imperialismo
ianque – de forma que
então tudo ficou como antes. Gutiérrez foi
substituído pelo seu
vice-presidente, Alfredo Palacio, cardiologista que estudou nos E.U.A.
que
depois de algumas expressões ocas de pseudoindependência,
governará esta
semicolônia capitalista como sempre tem sido. Isto acontece
não só no Equador:
na Bolívia em outubro de 2003, um levante operário
derrubou o presidente
assassino Gonzalo Sánchez e em seu lugar assumiu seu
vice-presidente Carlos
Mesa... e tudo continua igualmente. Nós estamos vendo a reprise
de um filme
velho cujo resultado trágico já sabemos muito bem. É necessário
pôr um fim, de uma vez por todas, a este ciclo infernal, de
governos submissos brutais e levantes frustrados que não rompem
com o capitalismo. Em Quito, em meio a uma
insatisfação generalizada pela fuga do coronel golpista,
muitos reclamam por ele não ter recebido o castigo merecido. O “ditocrata” Gutiérrez (conforme
autointitulou-se), um ditador
disfarçado de democrático, pôde escapar por um fio,
voando para um asilo dourado no Brasil de Lula; os cleptocratas
fugitivos como Bucaram, Gustavo Noboa e Alberto Dahik escaparam uma vez
mais. Mas não se trata de um único homem ou de um punhado
de ladrões, por mais odiados que eles se tornaram.
Além do caráter descaradamente ilegítimo da Corte
Suprema instalada pelo presidente recentemente fugido, nunca
haverá justiça para os explorados nos tribunais
burgueses. As tentativas das massas trabalhadoras, camponeses e
indígenas para por fim as castas de políticos gananciosos
equatorianos que dominam o país desde os tempos da colônia
continuam frustradas. “Que se vão todos!” gritam os
manifestantes. Mas, como e quem vai tirá-los? E que os
substituirá? Farto das corruptelas do regime
de Lúcio Gutiérrez, vários manifestantes
quitenhos nestes dias são oriundos da classe média ou,
até mesmo, da burguesia.
Apesar do grande barulho que eles fazem com seus cacerolazos
(panelaços), estouros de globos e buzinas de carro, não
farão nada para mudar o
sistema que produz presidentes como Gutiérrez, Noboa, Mahuad,
Bucaram e outros
do tipo deles. Na realidade, boa parte da oposição vem da
oligarquia
tradicional, classe média alta, de generais que nunca gostaram
de receber
ordens de um coronel e de matronas socialites que consideram
Gutiérrez,
o ajudante de ordens do ex-presidente Bucaram, um carreirista vulgar e
inculto.
O que
urge é uma luta operária classista e uma ofensiva
revolucionária para liquidar
a podridão que habita os círculos do poder.
Gutiérrez era o candidato de uma frente
popular que acorrenta os trabalhadores aos setores da classe
dominante
burguesa. Desde a Espanha dos anos 30 ao Chile nos anos 70 do
século passado,
até o Equador hoje em dia, estas coalizões de
colaboração de classes sempre
terminam erradamente para os trabalhadores que as elegem. Não
é o bastante
derrubar o presidente ou um ditador de plantão; é
necessário varrer com o
sistema capitalista inteiro que produz e reproduz a miséria, no
caso do atual
Equador agora dolarizada, de seus escravos assalariados famintos. Não podemos esquecer nem
um minuto que Lúcio Gutiérrez foi um presidente
eleito com o apoio de praticamente toda a esquerda equatoriana e do
movimento
indígena. Foi considerado um herói por seu papel durante
as manifestações de
janeiro de 2000, quando fez parte da efêmera Junta de
Salvação Nacional.
Enquanto os oportunistas elogiaram a falsa “unidade”
indígena-militar, os trotskistas da Liga pela IV Internacional
(LQI) nós
alertamos o perigo de aliar-se com a oficialidade do instituto
castrense.
Afirmamos no título de nosso boletim de 27 de janeiro de 2000
que a “Aliança com os burgueses
e militares = derrota para os
explorados”.
No momento da investidura de Gutiérrez, nós mostramos no
jornal de nossa seção
brasileira: “Este populista burguês em
verde oliva que tomou
posse no dia
15 de janeiro, não é nenhum 'vermelho’; governará
o país andino a favor dos
ricos e poderosos, implementando fielmente medidas de fome do Fundo
Monetário
Internacional e demais instituições internacionais
'multinacionais’ sujeitas às
ordens de Washington” (Vanguarda Operária N°
7, pág.
28, janeiro-fevereiro
de 2003). E assim sucedeu. Para que tudo não
continue igual, a LQI sublinha que é necessário ir
além das rebeliões populares repetidas e assumir a luta
por um governo
operário-camponês e indígena e empreender
a revolução socialista,
não só neste país andino estreito, mas
também estendê-la à região inteira, da
Bolívia à Venezuela, hoje com um potencial explosivo de
descontentamento social
e até mesmo aos centros imperialistas onde vivem centenas de
milhares de
trabalhadores equatorianos. Entre as tarefas principais para os
trabalhadores,
os camponeses e indígenas equatorianos e para todos que lutam
contra a opressão
secular no país do huasipungo,
devem lutar para derrotar
o
imperialismo, baseado –se na mobilização
operária para expulsar
os E.U.A da base militar de Manta e do país e derrotar
o Tratado
de Livre Comércio; ao contrário do enfoque
"democrático" dos
reformistas, é necessário lutar por conselhos
operários-camponeses,
órgãos potenciais de poder proletário e para que
os mais conscientes se unam
para forjar o núcleo
de um partido operário
revolucionário baseado
no programa da revolução permanente e se erga como tribuno
do povo,
defensor de todos os oprimidos. Uma
mobilização de classe média Os protestos contra o governo de
Gutiérrez eram quase constantes desde o
início de seu mandato. Há poucos meses de sua entrada no
governo, os ministros
indígenas e de esquerda foram forçados a renunciarem de
suas funções com as
mãos sujas por terem ajudado embelezar o gabinete dominado por
economistas de
direita, figuras sinistras do exército e do partido de
Gutiérrez, a Sociedade
Patriótica 21 de Janeiro. Na segunda metade do último ano
houve uma série de
marchas e ocupações por parte de trabalhadores
aposentados que exigiam a
elevação de suas pensões miseráveis e eles
se opunham aos planos de privatizar
o Seguro Social. Também havia as greves de trabalhadores
públicos e da saúde.
Porém as lutas operárias só influenciaram
indiretamente na mobilização
antigovernamental atual e pela primeira vez em 15 anos o movimento
indígena
estava ausente dos protestos. O ponto de partida era uma disputa entre
a
burguesia com o objetivo de depurar a Corte Suprema de Justiça
indicada por
Gutiérrez em dezembro. A velha
Corte
era dominada pelo Partido Social Cristão (PSC) de León
Febres Cordero, a nova Corte
por juízes do Partido Roldosista Equatoriano (PRE) de Bucaram,
aliado de
Gutiérrez. No dia 16 de fevereiro, o PSC e
a Esquerda Democrática (ED) chamaram uma
manifestação de 200.000 pessoas na capital, entre as
quais havia um contingente
de 14.000 empresários. Os recentes protestos foram desencadeados
pela decisão
da Corte Suprema de Gutiérrez ao término de março
por cancelar os processos
penais contra Bucaram, Gustavo Noboa e Alberto Dahik, o vice de Sixto
Durán. A
medida desencadeou uma explosão de ira popular. Ao mesmo tempo,
os sindicatos
protestaram contra a chamada “Lei Topo” que seria discutida no
Congresso no dia 6 de Abril. O projeto de lei do governo queria cumprir
as
exigências do Fundo Monetário Internacional, ao modificar
18 leis com o fim de
privatizar os serviços públicos e para criminalizar os
protestos. Haveria penas
de até 16 anos de reclusão, por exemplo, para aqueles
protestos que afetassem à
atividade (quer dizer, que faça greve) nos campos de
petróleo. Devido às
pressões de rua as lutas entre os partidos burgueses, a Lei Topo
foi rejeitada
pelo Congresso no dia 7. Com o aumento dos protestos, o
prefeito de Quito, Paco Moncayo, chamou
uma paralisação cívica para o dia 13 de abril que
não foi bem sucedida. Moncayo
não ganhou a simpatia dos
trabalhadores municipais devido às demissões que fez na
categoria. Não
obstante, na mesma noite, a rádio A Lua, uma
estação de rádio local, convocou
os primeiros panelaços. No dia seguinte Gutiérrez afirmou
que seus opositores
eram apenas alguns “foragidos”. A Lua respondeu
imediatamente ao distribuir letreiros com a legenda: “Eu também sou foragido”. Então, assediado no
Palácio de Corondelet,
no dia 15, Gutiérrez decretou o estado de sítio. A
resposta da população
quitenha foi imediata: saiu à rua para desafiar as forças
militares e
policiais. A polícia desencadeou uma
repressão feroz e lançou incontáveis bombas de
gás lacrimogêneo - até 1.500 dentro de uma hora –
deixando um saldo de 3 mortos
e cerca de 130 asfixiados. Desde o Ministério de Bem
Estar, sem correr nenhum risco, disparou sobre os
pacíficos manifestantes que, em resposta, queimaram o
edifício. Gutiérrez
tentou trazer alguns ônibus do leste com seus partidários
da Federação Indígena
Evangélica (FIE) para formar grupos de choque. Esta medida
desesperada falhou
quando foram bloqueados pelos manifestantes quitenhos. Durante toda uma
semana,
dos dias 13, aos 20 de abril, dia após dia, noite após
noite, dezenas de
milhares, marcharam em distintos pontos da capital. Se autoconvocaram
pelos
celulares e pelo correio eletrônico. No dia 19, com estudantes na
linha da
frente, concentrou-se 100.000 pessoas ao redor na Plaza Grande. O fim
de Lúcio
Gutiérrez foi anunciado. Ainda que os protestos de rua
tenham servido como o detonador para a
destituição do presidente, na verdade esta se deu desde o
interior do aparato
burguês e com a aprovação de Washington. No dia 20
às 8 horas da manhã, a
embaixadora estadunidense, Kirstie Kenney, foi consultar com o
presidente em
Carondelet. Ao final, a porta-voz da embaixada declarou que Washington
estava
preocupado com a crise e que era necessário resolver isto logo.
Minutos depois,
o chefe da polícia renunciou o seu cargo. Já antes,
quando Gutiérrez proclamou
o estado de sítio, era notória a ausência ao seu
lado do comandante geral do
exército, Luis Águas. Em face à persistência
das manifestações, ao meio-dia do
dia 20, o chefe do Comando Conjunto informou que as forças
armadas tinham
decidido retirar o apoio ao presidente Gutiérrez, para que o
país “retorne a um ambiente de paz.”
Dez minutos depois, o Congresso, ao
término
de uma sessão maratônica que durou a noite inteira, votou
a destituição do
presidente, por “abandono de cargo”, embora Gutiérrez naquele momento se encontrava no
Palácio
Carondelet dando ordens. Foi assim também quando em 1997
depuseram Bucaram “O
Louco” por “insânia”. “Se foi o ditocrata!
Vitória foragida” proclamou eufórico um
editorial de Llacta! (20 de abril). Foi-se um presidente
antioperário e
agora há outro. O sistema continua intacto: aonde está a
vitória? Até o
arqui-reacionário ex-presidente Febres Cordero cumprimentou a
população de
Quito por ter “dado uma lição histórica e ter dito
basta à ditadura”, embora o
seu n° 2, Jaime Nebot, prefeito de Guayaquil, falou “nós
não aceitaremos
anarquia de qualquer tipo” (Hoy, 21 de abril). Se os E.U.A.
demoraram
um
pouco para aprovação do novo governo, por parte da
Organização de Estados da
América (OEA), cuja organização, “Che” Guevara
denominava de o
“ministério ianque das colônias” isto tem o objetivo de
deixar bem claro para o
novo mandatário quem realmente manda. O presidente Palacio
nomeou um ministro
de finanças, Rafael Correa que antes de assumir a
posição, declarou “imoral” que um país pague 40 por
cento de seu orçamento
para cobrir
os interesses da dívida externa. O ministro de Governo, Mauricio
Gandará, falou
em revisar o tratado militar da base de Manta. Mas em um país
semicolonial como
o Equador, tais declarações para o consumo interno, logo
serão substituídas nos
fatos para a submissão aos seus amos imperialistas. No dia 25,
Palacio se
encontrou com a embaixadora Kenney e anunciou ao final da conversa que
não
seria tocado no tratado de Manta, nem qualquer outro acordo com os
E.U.A. A
esquerda oportunista: Ajudante de ordens de Lúcio e a burguesia
Com a queda de Lúcio Gutiérrez e o insistente protesto das ruas que “Se vão todos!” os políticos burgueses e reformistas estão nervosos. Se todos os políticos se vão, “então, quem governaria", pergunta o deputado Salvador Quishpe de Pachakutik, e ele mesmo responde: “Seria o caos”. Quishpe disse que será resolvido o assunto da Corte Suprema, serão antecipadas as eleições, “e então aí sim nós partiremos." Pachakutik, partido, indígena burguês, que temendo perder seus postos ministeriais não quis romper com o presidente em 2003 até que finalmente foi posto à rua por Gutiérrez, não tocará no estado burguês. O chefe do Partido Comunista (PCE), stalinista de orientação cubana, era conselheiro de Gutiérrez até meados de 2004, mas o PCE ficou com o presidente até o fim. Por sua parte, Luis Villacís, deputado do Movimento Popular Democrático (MPD), frente eleitoral do Partido Comunista Marxista-Leninista do Equador (PCMLE), respondeu a demanda que “Se vão todos” da seguinte forma: “É respeitável que um setor pense deste modo, mas nós não cabemos no mesmo saco desses que se venderam”. Não Senhor: você perfeitamente estava naquele saco. O MPD foi o primeiro a vender-se para ter um ministro, um conselheiro presidencial e um governador em recompensa por ter dado apoio a Gutiérrez e depois que foi defenestrado em julho de 2003, novamente vendeu-se em dezembro de 2004 em troca de um juiz na Corte Suprema fantoche do presidente. Por
outro lado, os trotskistas, da Liga pela IV Internacional, assinalamos
a partir
do primeiro minuto, assim que Gutiérrez declarou-se como “melhor
aliado e
amigo” do presidente estadunidense Bush na América Latina,
sublinhamos os
“frutos amargos” do apoio da esquerda e o movimento ao presidente
populista
(Equador: o ‘coronel da fome’ impõe os ditados do FMI”, El
Internacionalista
nº 3, maio de 2003). Enquanto ministros do Movimento Popular
Democrático e do
Pachakutik se acomodaram nas poltronas ministeriais, o presidente
aumentou as
tarifas de combustível, eletricidade, transporte público
e medicamentos, além
de conceder o uso da base militar de Manta às forças
armadas estadunidenses,
que a utilizaram para seu “Plano Colômbia” contra os insurgentes
no país
vizinho. No mesmo ano publicamos um folheto, “Equador: multidão
à beira de um
estouro” (julho de 2003), advertindo que frente à evidente
bancarrota dos
politiqueiros indígenas burgueses e reformistas stalinistas
urgia mais que
nunca conformar o núcleo de um partido que levante a teoria e
estratégia de
Leon Trotsky da revolução permanente. Baseando-se
na análise de três revoluções russas (de
1905, fevereiro de 1917 e outubro de
1917), Trotsky sublinhou que nos países de desenvolvimento
capitalista tardio,
semifeudais ou semicoloniais, é impossível na
época imperialista realizar as
metas democráticas das grandes revoluções
burguesas sem que o proletariado tome
o poder, com o apoio dos camponeses pobres e sem terra, para em seguida
passar
as primeiras tarefas da revolução socialista
internacional. Esse foi o programa
da Revolução Bolchevique, liderada por V.I. Lênin e
Trotsky. No mesmo 7 de
novembro de 1917, Lênin anunciou desde a tribuna do congresso dos
soviets
(conselhos de operários, soldados e camponeses): “Devemos agora
iniciar a
construção de um estado proletário socialista na
Rússia. Viva a revolução
socialista mundial!” Todavia, logo em seguida após a morte de
Lênin em 1923, um
triunvirato encabeçado por Stalin se apoderou do governo do
estado soviético e
impôs outra política, nacionalista e conservadora. Diante
do cerco imperialista
em torno à Rússia e a ausência de
revoluções proletárias na Europa, a recente
burocracia sucumbiu ao derrotismo inventando o dogma do “socialismo em
um só
país”.
Esta
invenção contradiz pelo vértice ao marxismo, que
sustenta: ainda que a
revolução possa estourar em qualquer
lugar, o socialismo, uma sociedade de abundância, sem classes nem
estado,
somente pode construir-se à escala internacional, com
participação dos países
de alto desenvolvimento econômico. Em contrapartida, Stalin e
seus sequazes,
exportaram o contrabando antimarxista
da revolução “por etapas”, na qual a primeira etapa seria
a “democrática”
burguesa. Faz 70 anos, que esta política reformista foi
sintetizada na forma de
frentes populares, que atam os trabalhadores e suas
organizações (sindicatos,
partidos) a setores burgueses, supostamente progressistas. A etapa
socialista
se postergaria até “as calendas gregas” (tempos que nunca
vão chegar), e a
democrática termina sempre em uma derrota para a classe
operária – e com grande
freqüência em um massacre de esquerdistas levado a cabo
pelos democratas ou
“ditocratas” burgueses. A experiência do governo de Lúcio
Gutiérrez, eleito
pelos votos de operários, camponeses e indígenas,
é outro resultado nefasto de
frentepopulismo.
Os
stalinistas equatorianos (e outros reformistas) pretendem que
não existe neste
país paupérrimo um forte proletariado com grande
população camponesa e
indígena. Esta não é a opinião da
burguesia, que em todo caso, mobiliza suas
tropas uniformizadas para reprimir com golpes e tiros trabalhadores em
greve.
Cada vez que os petroleiros entram em ação, decretam a
prisão de seus líderes
sindicais. Este falso esquema sociológico é somente um
pretexto para justificar
a política “etapista” de não lutar pela
revolução operária e em lugar disso
apoiar todo populista burguês que se apresenta, chame-se
Lúcio Gutiérrez ou
como se queira. Para o Equador, idêntico para quase todos os
países
capitalistas da América Latina, Ásia e África, a
perspectiva trotskista da
revolução permanente preserva toda sua vigência,
enquanto o frentepopulismo
stalinista ou francamente social-democrata representam o caminho da
derrota.
Todavia, a maioria dos que se reclamam
do trotskismo hoje tem abandonado o caminho da revolução
operária e falam de
“democracia”.
É
constante de quase todas estas correntes, formar uma ala esquerda de um
movimento “democrático” burguês. Conseqüentes com
isso, os seguidores do
pseudotrotskista Secretariado Unificado (S.U.) do falecido Ernest
Mandel se
dissolveram tempos atrás nas fileiras do Pachakutik. A maior
tendência
pseudotrotskista latino-americana, a Liga Internacional de los
Trabajadores
(LIT), anuncia a toque de caixa que “Equador vive uma
revolução” (nota datada
em 22 de abril, publicada pelo Partido Socialista dos Trabalhadores
Unificado
[PSTU] brasileiro, o principal partido da LIT). Até oferecem um
espantalho
computadorizado com este lema! Prova de tal “revolução”
é que “as massas
equatorianas... passaram por cima de todas as
instituições do Estado burguês --
a justiça, o Congresso, a Presidência e as Forças
Armadas – para exigir fora
Lúcio! ‘Que se vão todos!’”. A LIT ignora que o grosso
dessas “massas” era de
classe média e que esta consigna se originou na Argentina nas
manifestações
contra o governo do presidente radical De La Rua nos finais de 2001,
onde junto
com os panelaços, se expressou a ira de uma pequena
burguesia arruinada
pela crise econômica. Os operários industriais estavam em
grande parte ausentes
daquela mobilização e depois de ter cinco presidentes no
espaço de duas
semanas, terminaram com as eleições que instalaram... um novo presidente peronista, Nestor Kirchner.
Se o Equador vive uma
revolução, em vez de um período agitado que
poderia tornar-se em uma situação
pré-revolucionária, é necessário saber que
classe de revolução está em curso? O artigo da
LIT fala em formar um “poder
popular” baseado em “assembléias populares” que seriam
“órgãos alternativos às
instituições do Estado burguês”. “Popular” na boca
dos oportunistas quer dizer não
operário e sendo que não há outro tipo de
estado intermediário, isto
significa, que seriam órgãos de outro tipo de estado
burguês. O Movimento Ao
Socialismo (MAS) no Equador, afiliado à LIT, em um boletim, de
30 de abril
(“Fora Lúcio e o TLC! Que se vão todos!”) onde
estão suas palavras de ordens
popular, fala de um “governo da classe trabalhadora em unidade com os
camponeses e setores oprimidos”, mas com um programa
democrático-burguês: não
pagar a dívida externa, não ao TLC e ao ALCA, não
ao Plano Colômbia e a base
militar de Manta, reforma agrária (em lugar do chamado de
Trotsky para uma revolução
agrária em conjunto com a insurreição
operária), cumprir as demandas das nações
indígenas, defesa dos direitos dos trabalhadores, mais dinheiro
para a educação
e a saúde e ponto. O enfoque pequeno-burguês
e reformista de recorrer a esses políticos
corruptos dista muito do programa operário revolucionário
de lutar contra o
capitalismo e até pode ser cooptado por forças
direitistas. Outra corrente
pseudotrotskista que se entusiasma pelo “que se vão todos”
é o grupo Militante,
que alega por generalizar as assembléias de bairros que se
formaram em algumas
partes de Quito e de eleger delegados a um “conselho geral de cidade”
(“Equador: A rebelião popular derrota Lúcio
Gutiérrez”, 21 de abril). Este
programa democrático-burguês não é casual:
no México, o grupo Militante forma
parte do PRD (Partido da Revolução Democrática),
um partido capitalista
nacionalista; na Venezuela Militante dá apoio político
entusiasta a outro
presidente coronel de um exército burguês, Hugo
Chávez. Uma corrente morenista
dissidente, o PTS (Partido de Trabalhadores pelo Socialismo) argentino,
chama
em um artigo sobre o Equador por estabelecer “formas
democráticas de
auto-organização” e de uma “frente única das
massas”, conceitos que nada tem de
operário enquanto seu caráter de classe. “As massas devem
lutar para que se Vá
Palacio e se Vão Todos e lutar por uma Assembléia
Constituinte verdadeiramente
livre e soberana”, escreve (La Verdad Obrera, 22 de abril). Os
chamados
por uma assembléia constituinte, sempre e em todas partes,
caracterizam aos
morenistas desde que seu mestre descobriu a “revolução
democrática” nos anos 80
do século passado. Forjar
um núcleo
trotskista no Equador
Em determinados momentos, sobretudo na luta contra uma ditadura bonapartista ou regimes autoritários semifeudais e pré-capitalistas (como foi a Rússia czarista), seria correto para os revolucionários proletários apresentar taticamente a consigna de uma assembléia constituinte para mobilizar as massas camponesas e pequeno-burguesas em geral, a favor de demandas democráticas não cumpridas. Durante mais de um século e meio de independência, o Equador negou aos indígenas nos fatos o direito de votar, se manteve a servidão em forma de huasipungo e persistia o latifúndio semifeudal. Porém hoje é uma típica pseudodemocracia burguesa semicolonial, com tudo o que isto implica: violência policial contra os trabalhadores, discriminação contra indígenas e negros, submissão incondicional ao imperialismo. Equador tem tido sete assembléias constituintes no último século a última em 1997, superando assim inclusive o número de golpes de estado. A resposta ao fracasso dos múltiplos levantamentos indígenas desde começos dos anos 90 do século passado e agora da “rebelião dos foragidos” da pequena burguesia urbana, não é ter outra assembléia constituinte ou fazer reviver o “parlamento dos povos”, em um intento de dar-lhe a uma futura revolução um caráter democrático (burguês), mas sim, lutar por um governo operário, camponês e indígena para iniciar a revolução socialista. Esta revolução,
por sua própria natureza, deve ser internacional em sua
extensão e internacionalista por seu programa. O “socialismo”
nacional em um pequeno país andino é um sonho
nacionalista reacionário e impossível. A “rebelião
dos foragidos” tem estado marcada por um forte nacionalismo, sobretudo
no início quando foi onipresente a bandeira tricolor
equatoriana. Vários de seus artífices são figuras
nacionalistas burguesas, como o prefeito de Quito, Paco Moncayo da ED,
o ex general que dirigiu as forças equatorianas na guerra de
Cenepa em 1995 contra o Peru (Gutiérrez participou nessa guerra
também, porém o PCMLE acusou o governo de “vendepatria”
por abandonar território nacional). Uma
organização trotskista no Equador teria tomado uma
posição derrotista nessa reacionária guerra
fronteiriça (como teriam feito os trotskistas peruanos
também), e hoje deve ser a bandeira da unidade com a classe
operária peruana. Dada as constantes mobilizações
anti-governamentais dos operários, camponeses e indígenas
na Bolívia, as lutas dos trabalhadores peruanos contra o governo
de Alejandro Toledo, a tenaz guerra de guerrilhas na Colômbia e a
crescente radicalização dos trabalhadores venezuelanos
sob o regime populista burguês de Hugo Chávez, a
perspectiva de uma federação
andina de repúblicas operárias e de uns estados unidos
socialistas da América Latina é bem atual. A chave é construir núcleos de partidos autenticamente trotskistas em todos os países, organizações de vanguarda revolucionária que não abandonem nos fatos o programa da revolução permanente, sem a qual não haverá liberação dos trabalhadores equatorianos, bolivianos, peruanos, colombianos e venezuelanos. Um núcleo trotskista lutaria contra todo o apoio político aos governos populistas, seja o de Gutiérrez no Equador ou Hugo Chávez na Venezuela; contra todo tipo de nacionalismo, frentepopulismo e reformismo democrata, advertindo sobre o caráter burguês da rebelião dos foragidos (bem diferente do levantamento operário e indígena da Bolívia em 2003). Ao mesmo tempo, buscaria maneiras de abrir brechas para que a rebelião das massas trabalhadoras possa romper os alicerces capitalistas, que de outro modo trariam consigo outra derrota para os explorados e oprimidos. Lutaria também em estreita colaboração com os trotskistas nos países imperialistas, em particular dos Estados Unidos e Europa, a favor de uma mobilização operária contra as invasões e ocupações coloniais e para afastar o sistema imperialista mediante a revolução socialista internacional. Pelo reforjamento de uma IV Internacional autenticamente trotskista! n
E-mail: internationalistgroup@msn.com Voltar à página principal da LIGA QUARTA-INTERNACIONALISTA DO BRASIL Voltar à página do INTERNATIONALIST GROUP |