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Nº 7, janeiro de 2003 Romper com a Frente
Popular de Lula Governo PT/PL: Bombeiro do FMI
O dia da posse do novo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, mais de 150 mil pessoas festejaram em Brasília. Centenas de ônibus saíram das cidades principais do país, contingentes de indígenas vieram dos cantos mais distantes da Amazônia para celebrar. “Foram festejar o triunfo do seu presidente, do presidente que pela primeira vez representa o povo”, comentou a Tribuna da Imprensa (2 de janeiro). Num contraste com a sucessão de politiqueiros corruptos que têm ocupado o Palácio do Planalto depois da queda do regime militar, houve um sentimento de que Lula é “um de nós”. Mas além da euforia popular, a dura realidade é, que
o ex-sindicalista e chefe do social-democrata Partido dos Trabalhadores
(PT), que foi eleito junto com seu vice, o industrial José Alencar
do direitista Partido Liberal (PL), vai presidir um regime burguês
que governará o país não em interesse do “povo” senão
pelo lucro da Bovespa e Wall Street. Anuncia com grande barulho seu programa
assistencialista de “Fome Zero”, mas vai implementar as políticas
de fome do Fundo Monetário Internacional. A tarefa que os donos do
Brasil têm conferido em Lula é de conseguir que as massas trabalhadoras
engulam as “reformas” anti-operárias que seus antecessores direitistas
não alcançaram impor. O Lula foi selecionado como mandatário do país desta
vez, em sua quarta campanha presidencial, principalmente devido à
crise econômica generalizada que abrange a maior parte dos países
da América Latina, à “moderação” de seu programa
e ao fato de que os trabalhadores que votaram por ele serão firmemente
encandeados a seus inimigos de classe. Como nas campanhas anteriores, o
PT formou uma coalizão de colaboração de classes tipo
“frente popular” como garantia de suas “boas intenções” frente
ao capital. Mas desta vez o “aliado” capitalista foi ainda mais direitista
que no passado: o Sr. Alencar é o rei das camisetas produzidas a
salários de fome pelo Walmart e chefe da igreja de turma para esvaziar
os bolsos dos pobres. Ao nível continental, Lula vai cumprir com os requisitos
dos amos imperialistas em Washington. Depois de uma visita com o presidente
norte-americano, Lula declarou que voltaria ao Brasil “convencido de que terei
no presidente Bush um importante aliado” (O Globo, 11/12/02). Como primeiro
encomendado, ainda antes de tomar posse, o presidente eleito intervem na
crise venezuelana. Ao mesmo tempo que FHC envia um navio petroleiro para substituir
o petróleo faltante devido ‘a greve patronal, o Lula envia um
emissário a Caracas que aconselha ao presidente Hugo Chávez
a chegar a um conchavo com a oposição de direita. Daqui a pouco
tempo pode-se esperar que o mandatário brasileiro dará lições
de política econômica “responsável” ao governo argentino
do presidente Duhalde, considerado “menino mau” pelo FMI, devido à
gastança dos governadores peronistas . Assim cumpre seu papel de bombeiro
latino-americano do consórcio banqueiro imperialista. Anteriormente, o chefe do PT havia declarado que a Área de
Livre Comércio da América seria “equivalente à anexação
do Brasil pelos Estados Unidos”. Este foi um dos pontos que mais apreciaram
nele os “anti-globalizadores” do Fórum Social Mundial. No passado,
Lula foi uma das “estrelas” do FSM. Embora, na audiência com o chefe
do imperialismo ianque o presidente eleito do Brasil declarou que “a ALCA
pode representar a abertura dos mercados dos EUA e Canadá” aos produtos
brasileiros, “sobretudo no setor agrícola”. Assim, em recompensa
do apoio que lhe tem dado em sua campanha presidencial capitalistas como
Ademerval Garcia da Associação Brasileira de Exportadores de
Laranja, Brasil se convertirá numa “república laranjeira”.
Mas isto seguramente não diminuiria o entusiasmo pelo novo governo
entre os frente-populistas pequeno-burgueses e burgueses que se reúnem
cada ano em Porto Alegre. Ao nível interno, o governo lulista vai impor a “reforma
previdenciária” que o governo FHC fracassou em implementar. O Lula
agora propõe um teto de R$2.200 (dez salários mínimos),
ou seja menos de US$700 ao mês. Isto não é um caso isolado.
Pouco mais de um mês de sua eleição, Lula convidou centenas
de sindicalistas ao Hotel Sheraton de São Paulo para anunciar que “a
partir de agora acabou a moleza”. No mesmo discurso anunciou que “de não
tiver condições” nem sequer vão pagar o ridículo
salário mínimo vital que propugnou o PT durante a campanha (O
Globo, 27de novembro de 2002). Logo anunciou que no lugar dos R$240 prometidos,
somente serão R$210!
Lula no convite ao Hotel Sheraton onde
anunciou aos sindicalistas, “a
partir de agora acabou a moleza”,
São Paulo, novembro de 2002. Tudo isto relegaria a “esquerda petista” a uma situação
marginal. Quando foi nomeado como novo chefe do Banco Central o tucano Henrique
Meirelles, Heloísa Helena, senadora do PT de Alagoas e porta-voz da
corrente petista Democracia Socialista, exclamou: “Estou triste!” O antigo
presidente do Banco de Boston no país deve “estar a serviço
do capital financeiro” (O Globo, 13 de dezembro de 2002). Que
surpresa! Outra estrela da DS, o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont, se
queixou, “Não entendi nada.” A senadora alagoana recusou candidatar-se
ao governo do estado por não querer compartilhar a chapa com velhos
inimigos como os tradicionais coroneis de Alagoas. Mas a tristeza e a incompreensão
da ala esquerda domesticada do PT não vai além de algumas lágrimas.
Eles mesmos têm proferido amplos serviços ao capital. Assim, o governo de Olivío Dutra no estado do Rio Grande
do Sul, onde a esquerda petista teve grande presença, respondeu à
greve dos professores com mão de ferro, não concedendo nada
para os educadores que recembem alguns dos piores salários da república.
Na prefeitura da capital gaúcha, Raul Pont fez gala da “democracia
participativa” de seu “orçamento popular”. Mas a dura realidade foi
que celebraram audiências populares para aprovar um programa de cortes
nos programas sociais municipais. E em todo caso, estes “esquerdistas” têm
acompanhado fielmente Lula no frentepopulismo que tem sido a
marca das campanhas eleitorais do PT desde as prefeituras de Porto Alegre,
São Paulo e Belém até aos governos estaduais do Rio
Grande do Sul, Rio de Janeiro, Acre e Mato Grosso do Sul. . A esquerda pseudotrotskista
segue os tacões de Lula Na véspera das eleições presidenciais, a imprensa
burguesa fingia escandalizar-se pela presença de “radicais” no PT,
sinalando que até 26 dos 91 deputados da bancada petista se consideram
esquerdistas (ver “O que querem os radicais do PT”, Veja, 23 de outubro
de 2002). “Descobriu” que a DS se pretende trotskista, que são partidários
da corrente do Secretariado Unificado (SU) anteriormente dirigido por Ernest
Mandel. Atribuem à DS 10 por cento dos militantes do partido; na burocracia
petista são ainda mais numerosos, constituindo grande parte do aparelho
a serviço da Articulação, a corrente majoritária
de Lula, José Genoíno e José Dirceu. Outro componente
da franja de esquerda do partido, O Trabalho, segue a pauta da corrente
internacional dirigida pelo pseudotrotskista francês Pierre Lambert.
Um terceiro agrupamento, Força Socialista, relativamente numerosa
no estado do Rio de Janeiro, é de obediência stalinista. Se a mídia burguesa brasileira quer imitar suas colegas inglesas
em fazer escândalo pela presença de “vermelhos debaixo da cama”
(reds under the bed), a realidade é que estes reputados esquerdistas
são bem mais uns rosados pálidos. O trotskismo autêntico
defende a necessidade de uma direção revolucionária
independente, como o partido bolchevique chefiado por Lênin e Trotsky
que tomou o poder no império russo na Revolução de
Outubro de 1917, originando o primeiro estado operário da história.
A política destes impostores, pelo contrário, é de
seguir às forças reformistas maiores, como o PT no Brasil
ou o Partido Socialista na França, no lugar de construir um partido
operário leninista-trotskista. Se a sorte das diversas correntes da esquerda petista é bem
triste, seus companheiros pseudotrotskistas “exteriores” não têm
perspectivas mais prometedoras. Agora que Lula colheu 56 milhões
de votos, os dois grupos principais da “extrema esquerda”, o PSTU (Partido
Socialista dos Trabalhadores Unificado) e PCO (o Partido Causa Operária)
lançaram candidatos à presidência que receberam 400,000
(José Maria Almeida) e 40.000 (Rui Costa Pimenta) votos respectivamente
no primeiro turno das eleições. O maior, o PSTU, chamou a votar
em Lula no segundo turno, mesmo admitindo que “não acredita que um
possível governo Lula irá melhorar a vida do povo”. Por que,
então, apoiar a candidatura dele? Sua resposta expressa nitidamente
a óptica comum a todos estes oportunistas que abusam do nome da Quarta
Internacional: “Como os trabalhadores acreditam em Lula e, sobretudo, querem
a derrota eleitoral de Serra, o PSTU se somará à classe trabalhadora
e ajudará a chamar o voto em Lula e a elegê-lo”, anuncia o
boletim do PSTU. É aqui uma expressão quimicamente pura do
seguidismo como programa. O PSTU segue a linha do falecido dirigente pseudo-trotskista argentino
Nahuel Moreno, quem teve gosto indiscriminado quanto às correntes que
seguia: primeiro o peronismo, seguido pelo castrismo, maoísmo, guevarismo,
um episódio social-democrata sobe o segundo governo Perón,
seguido por uma aventura guerrilheira com os sandinistas nicaragüenses
e um livro de elogios aos mulahs iranianos, para logo se converter em campeão
de uma suposta “revolução democrática” (palavra de
ordem também de Ronald Reagan) que teve sua expressão concreta
no apoio aos nacionalistas polacos anti-soviéticos de Solidarnosc
e aos muyajedin (“guerreiros santos”) afegãos. Após
a sua morte em 1986, os morenistas do PSTU elogiaram a tomada de poder por
Yeltsin em agosto de 1991 como uma “segunda revolução russa”.
Para os reformistas que participaram na destruição contra-revolucionária
da União Soviética, o que foi uma derrota histórica
do proletariado mundial, votar pela frente popular de Lula é mais
uma traição. O PCO, seguidores do centrista argentino Jorge Altamira, decidiu
finalmente chamar a votar nulo no segundo turno, devido à “política
enganosa da Frente Popular dirigida pelo PT” e por que a candidatura de Lula
“não é uma candidatura operária ou até mesmo de
esquerda, mas uma candidatura patronal” (decisão da XII conferência
do PCO, Causa Operária, 2 de novembro de 2002). E como justifica
o PCO seus chamados a votar por Lula, “candidato operário” segundo
eles, nas eleições de 1989, 1994 e 1998? Acaso a Frente Brasil
Popular (1989) e a União do Povo nos anos posteriores não foram
frentes populares? Para o PCO, uma frente popular não se define pelo
critério marxista de classe, como uma aliança de colaboração
de classes que subordina aos trabalhadores à setores capitalistas
através de uma coalizão com partidos burgueses, e sim pelo
critério da política burguesa, do seu posicionamento na escala
esquerda-direita. Então, sendo a aliança Lula/Alencar, mais
à direita, não se pode votar em Lula como faziam antes. A política
do PCO é a de frentepopulistas decepcionados, que queriam que Lula
fizesse uma aliança um pouco mais à esquerda. O mesmo critério sobre a frente popular é compartilhado
também por grupos que ostentam uma retórica mais esquerdista.
A Liga Bolchevique Internacionalista (LBI) ostensivamente chamou pelo voto
nulo nas eleições presidenciais, sinalando o caráter
abertamente direitista da aliança PT/PL. Mais às vésperas
do primeiro turno, a LBI lança uma advertência (4 de outubro)
contra o que consideram “a maior fraude da história para garantir a
realização do 2º turno”. Ali convocam “todo o ativismo
classista, independente da decisão de estarem apoiando Lula ou mesmo
José Maria (PSTU), a realizarmos a denúncia vigorosa da fraude
em curso e, caso esta se concretize, como tudo indica, a deflagrar uma ampla
mobilização nacional, que culmine em uma paralisação
ativa contra a fraude eleitoral”. Ou seja, a LBI pretende não dar apoio
político nenhum a Lula, mas sobe a cobertura de uma luta contra a
fraude, chama o “ativismo” a sair na rua para insistir que o TSE pronuncie
a vitória do candidato da frente popular já no primeiro turno! Tanto os falsificadores do trotskismo que chamaram a votar como
estes últimos que pretendiam se opor à frente popular querem
estar com o “fenômeno Lula”. Prova disto é que após às
eleições todos têm uma política quase idêntica,
de apoiar as lutas das massas que acham que se produziria a raiz da vitória
de Lula, e assim pressionar ele. (Há diferenças de formulação,
o PSTU diz que estas lutas serão resultado das “expectativas” das
massas, agora que o PCO insiste que serão produto das “tendências
revolucionárias das massas”, mas em todo caso, a política é
a mesma.) O dirigente do PCO, Rui Costa Pimenta o diz com todas as letras
que é necessário “pressionar todas as organizações
que estão na base deste governo e que participam dele direta ou indiretamente
(CUT, MST, o próprio PCdoB, o PT, os sindicatos, a UNE etc.) para
que rompam com a burguesia e ingressem na via do atendimento das reivindicações
das massas trabalhadoras e do governo próprio da classe trabalhadora”
(Causa Operária, 2 de novembro de 2002). O PCO até
nega que o PT seja um partido operário de qualquer tipo, mas aqui
chama ao mesmo a romper com a burguesia! Um pouco tarde... Característico também que estes chamam agora à
formação de um novo “partido operário de massas” ou outra
variante do mesmo que seria nos fatos, um PT bis, com um programa ligeiramente
à esquerda do atual, ou seja, de voltar ao PT “das origens”.
A Liga Quarta-Internacionalista do Brasil, pelo contrário, chama por
forjar um partido operário revolucionário, baseado no programa
da revolução permanente de Trotsky. Insistimos que na época
imperialista, mesmo as reivindicações democráticas mais
elementares não se podem obter sem uma revolução operária,
apoiada pelos camponeses, e sua extensão aos centros imperialistas.
O PCO, por exemplo, fala, na questão agrária, da nacionalização
do solo, que no fundo é somente uma demanda democrática, e porquê
“toda a terra seja distribuída em forma de concessão” aos camponeses,
sobe um “governo operário”, o que na boca deles quer dizer um governo
PT bis. A LQB chama não por uma reforma agrária de um governo
petista mais a esquerda, senão pela revolução agrária,
que os camponeses tomam a terra mesma numa tumultuosa sublevação,
onde não aguardam a chegada dos funcionários de alguma agência
de reforma agrária senão que tomam eles mesmos a casa grande,
em apoio da insurreição operária nas cidades e que a
terra nacionalizada das grandes fazendas e complexos agroindustriais seja
trabalhada em forma coletiva. Agora que os pseudotrotskistas falam de não depositar confiança
no governo de Lula, a LQB diz abertamente que o governo PT/PL é o
governo do inimigo de classes, e que os operários e camponeses, os
trabalhadores urbanos e rurais, devem preparar-se para resistir os ataques
deste governo burguês da frente popular. Hoje, pelo caráter
abertamente direitista da aliança PT/PL, muitos grupos que falsamente
ostentam o nome trotskista dizem que não podem apoiar a Lula. Mas
a LQB é a única organização da esquerda brasileira
que tem defendido a política autenticamente trotskista de não
dar nenhum voto a nenhum candidato ou partido de uma frente popular. Nós
baseamos sobre a política de Leon Trotsky mesmo, que durante a Guerra
Civil espanhola escreveu: “Os operários e os camponeses somente podem lograr a vitória quando combatem por sua própria emancipação. Submeter eles, nestas condições, à direção da burguesia significa garantir com antecipação a derrota na guerra civil. Ao contrário do estreito nacionalismo da esquerda frentepopulista
brasileira, a LQB luta pelo internacionalismo proletário revolucionário.
Nós como nossos camaradas nos EUA também lutamos por defender
o Iraque e derrotar os imperialistas. Defendemos a Corea do Norte contra
as ameaças e a chantagem nuclear de Washington. Igualmente defendemos
a China, Vietnam e Cuba contra a contra-revolução interna
e externa. A Liga Quarta-Internacionalista do Brasil, seção
da Liga pela Quarta Internacional, luta pela oposição classista
a toda frente popular, por um partido operário revolucionário
e por reforjar uma Quarta Internacional autenticamente trotskista. Junta-se
a nós! n E-mail: internationalistgroup@msn.com Voltar à página principal da LIGA QUARTA-INTERNACIONALISTA DO BRASIL |