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maio de 2008 Histórica
ação exige retirada das tropas do Iraque e
Afeganistão
Greve
contra a guerra paralisa portos nos EUAO porto de Oakland, Califórnia, paralisado no 1° de maio, com os braços dos guindastes em posição de repouso. (Foto: The Internationalist)
O
seguinte artigo foi traduzido de The
Internationalist n° 27, (maio-junho de 2008). “Nós
fizemos, paralisamos a costa”, diziam oradores sindicais na
entusiasta
concentração ao iniciar o ato praça Justin Herman
em San Francisco, Califórnia
depois de uma passeata pelo cais do porto, a partir da sede do Local
(Seção) 10
do International Longshore e Warehouse Union (ILWU – Sindicato de
Estivadores e
Armazenistas da Costa do Pacífico dos Estados Unidos). Cada um
dos 29 portos da
Costa Oeste foi fechado no 1º de maio como resultado da
ação das bases do ILWU
para exigir que cesse a guerra e ocupação no Iraque e
Afeganistão, assim como a
retirada imediata das tropas estadunidenses do Oriente Médio. O
estivador Jack
Heyman, membro do comitê executivo do Local 10, recordou a um
locutor de rádio
local que costumava dizer: “se as notícias não te
agradam, então faça as suas.”
“Hoje não só fizemos notícia, fizemos
história”, disse Heyman para a multidão
de trabalhadores portuários e seus partidários. E
é certo. No quinto
aniversário do malogrado discurso de George Bush sobre a
“missão cumprida”
[pela suposta vitória no Iraque], os trabalhadores usaram seu
poder industrial
contra a guerra. A histórica
ação do Primeiro de Maio realizada pelo ILWU representa
a primeira greve de um sindicato estadunidense contra uma guerra dos
EUA. Em
todos os cais os enormes guindastes de carga e descarga de
contêineres
mantiveram-se imobilisados, com seus braços em
posição vertical, como se
fizessem continência à vitoriosa ação dos
trabalhadores portuários. Esta ação é
uma poderosa demonstração de força que a classe
dominante não pode ignorar nem
despresar. As bases do sindicato desafiaram as ordens de um juiz
trabalhista,
que em duas ocasiões lhes ordenaram irem trabalhar.
Também venceram as
capitulações da direção de seu sindicato,
que desde o princípio não queria que
se levasse a cabo uma paralisação dos trabalhadores e que
logo tentou dissolver
e boicotar ante as ameaças legais enquanto lançava seus
discursos patrióticos.
Os patrões da Pacific Maritime Association (PMA) declararam que
o fechamento
dos portos em 1º de maio representou uma “greve ilegal”.
Não obstante, apesar
de todas as travas e dificuldades que apresentaram os porta-vozes da
patronal,
os trabalhadores portuários mostraram a via para derrotar a
guerra imperialista
mediante a mobilização do poder da classe operária. Afinal
de contas, foi mais que uma paralisação de trabalhadores.
A greve no Primeiro
de Maio contra a guerra representa um passo inicial, uma mostra do que
falta
para derrubar os guerreiristas de Washington. Sua ação
“simbólica” se fez
sentir até no Iraque, onde os estivadores de dois portos pararam
em
solidariedade com o ILWU. Uma mensagem para o Primeiro de Maio do
Sindicato
Geral dos Trabalhadores Portuários do Iraque dirigido aos
“companheiros e
companheiras do ILWU”, dizia: “A valente decisão que
tomaram para realizar uma greve no Primeiro de Maio para protestar
contra a
guerra e ocupação no Iraque, faz avançar nossa
luta contra a ocupação para
assegurar um melhor futuro para nós, o mesmo que para o resto do
mundo…. Do
Iraque, lhes manifestamos nossa admiração e apoio,
até a vitória sobre a
barbárie do governo estadunidense.” O fato que os
trabalhadores iraquianos e estadunidenses unam esforços em uma
ação comum é uma
poderosa mostra do que pode vir. Não se trata de palavras vazias
no papel. Os
trabalhadores portuários do Iraque e Estados Unidos estão
mostrando ao mundo: assim
se vê a solidariedade proletária internacional. Tendo
sido mostrado, agora
falta generalizá-la e aprofundá-la. Cabe
destacar que a ação dos trabalhadores portuários
no Primeiro de Maio não se
restringiu a estreitas questões relativas à categoria. O
atrativo cartaz que
anunciava a ação sindical, produzido por um coletivo
gráfico pelo Comitê dos
Trabalhadores Portuários para Organizar o Primeiro de Maio,
ligou a luta para
“Defender os direitos dos trabalhadores!” e para “Defender os direitos
dos
imigrantes!” No ato do ILWU na praça Justin Herman, os oradores
convocaram os
manifestantes a participarem nas mobilizações a favor dos
direitos dos
imigrantes que se levaria a cabo mais tarde nesse mesmo dia, tanto que
porta-vozes do sindicato falaram durante os comícios dos
imigrantes. O impacto
da paralisação dos portos tampouco se restringiu a Costa
Oeste. Os
trabalhadores dos correios de São Francisco, Nova Iorque e
Greensboro, em
Carolina do Norte, realizaram minutos de silêncio em
solidariedade à ação dos
portuários. As federações estatais da AFL-CIO [a
principal central sindical nos
EUA] de Vermont e Carolina do Sul aprovaram moções de
solidariedade, instando
seus filiados a que empreenderam ações contra a guerra no
Primeiro de Maio. O
sindi-cato dos professores e trabalhadores administra-tivos da
Universidade da
Cidade de Nova Yorque (CUNY) convocou eventos em solidariedade à
ação do ILWU
em onze facultades da CUNY, a maior universidade pública urbana
dos Estados
Unidos. A
convocatória do ILWU não se limitou aos Estados Unidos. O
sindicato recebeu
mensagens de apoio de todo o planeta: do sindicato ferroviário
Doro-Chiba no
Japão; dos trabalhadores portuários da Austrália;
da Federação Internacional
dos Trabalhadores de Trans-porte; dos conselhos sindicais de Liverpool
e Brent,
UNITE e da Red Nacional de Delegados Sindicais na Inglaterra; das
centrais
sindicais brasileiras Conlutas e Intersindical, assim como o SEPE, o
sindicato
do magistério do estado do Rio de Janeiro, entre outros. No
Primeiro de Maio em
Roma, Itália, um grupo de ativistas estadunidenses contra a
guerra distribuiu
filipetas com a mensagem “We Ì ILWU”. E sobretudo, houve as mensagens e a
corajosa
paralisação dos trabalhadores portuários do Iraque. O
Internationalist Group e a Liga pela IV Internacional tem lutado
durante anos para
que os trabalhadores de transporte boicotem carregamentos de guerra
e por
greves operárias contra a guerra. Animamos e logo publicamos
a decisão do
ILWU de implementar a paralisação tão logo
anunciada, para que não fosse
enterrado pela inércia dos burocratas ou por sua aberta
sabotagem. A atitude
dos trabalhadores portuários da Costa Oeste tem demonstrado de
maneira
contundente que as ações operárias contra a guerra
são possíveis e estamos
orgulhosos de haver contribuído a se tornar realidade esta
perspectiva. Os
trabalhadores portuários da Costa Oeste decidiram “parar o
trabalho para deter
a guerra”. Agora os sindicatos em todo o mundo devem mobilizar-se para
seguir o
exemplo do ILWU na luta para mobilizar o poder do proletariado para
derrotar a
guerra dos patrões. Isto
exige não só ação industrial, como
também uma ofensiva política contra os
partidos Democrata e Republicano, os partidos gêmeos do
imperialismo
estadunidense. As “alternativas” burguesas e pequeno burguesas
como o
Partido Verde e o Partido Paz e Liberdade que tem aparecido na
exuberante flora
e fauna políticas da Califórnia, só servem para
forçar a oposição aos limites
da política eleitoral burguesa. Um partido
operário revolucionário mobilizaria
a classe operária, com plena independência a respeito
de todos os partidos
capitalistas, e contra eles, propondo ações
classistas tais como a
paralisação dos portos contra a guerra realizada pelo
ILWU e dirigindo-as até à
luta pela tomada do poder pelos operários. Contra a
retórica patriótica de que
a “paz é patriótica”, tal partido lutaria pela
revolução socialista
internacional. Primeiro
de Maio: “Sem paz, não há trabalho”
A
decisão de realizar uma paralisação contra a
guerra em 1º de maio com a palavra
de ordem de “Sem paz, não há trabalho” foi tomada em 8 de
fevereiro, na última
sessão da assembléia dos trabalhadores portuários
de toda a costa, que é o mais
alto posto deliberativo dos estivadores, composto por delegados eleitos
pelas
bases. A proposta a favor da ação sindical contra a
guerra, escrita por Heyman
do Local 10, foi aprovada por uma ampla maioria de 97 votos contra 3.A
chave
para a obtenção desta arrasadora votação
foi o apoio dos veteranos da guerra do
Vietnã, alguns dos quais são politicamente conservadores,
que disseram que a
guerra deve ser detida a todo custo. Expressaram muita raiva contra os
democratas, que ganharam o controle das duas câmaras do Congresso
estadunidense
nas eleições de novembro de 2006 por uma forte
votação contra a guerra. Porém
uma vez que tomaram as rédeas, os democratas seguiram aprovando
orçamentos de
bilhões de dólares para as guerras do Pentágono. Ao
aproximar-se o Primeiro de Maio, os patrões ameaçaram com
ações judiciais para
intimidar os trabalhadores portuários. No final de março
conseguiram que um
juiz trabalhista sentenciasse que a ação não
poderia fazer-se sob o rótulo de
uma reunião mensal regular de “trabalho parado”, com a qual
segundo o contrato
se pode interromper o trabalho. Em 8 de abril, a direção
do sindicato retirou
sua petição pedindo que os patrões dessem
permissão para tal reunião, porém os
planos para realizar a paralisação se manti-veram. Os
patrões da PMA
solicitaram uma ordem judicial contra os trabalhadores, mas um juiz se
recusou
a outorgá-la. Nas vés-peras da ação, os
patrões marítimos ten-taram novamente:
“Um dia antes, um juiz trabalhista se pronun-ciou a favor dos
operadores dos
termi-nais no cais e de outros patrões que suspei-tavam que uma
movi-mentação
dos trabalha-dores estava em curso. Ajuizou que parar os trabalhos
representaria uma violação ao contrato. O ILWU não
fugiu do seu propósito”,
como escreveu o San Francisco Chronicle (2 de maio). No
dia anterior, Steve Getzug, portavoz dos patrões
marítimos da Costa Oeste,
declarou: “Prevemos que o 1º de maio será um dia de
trabalho normal”. A
antecipação dos patrões resultou equivocada. “A
ordem [de não faltar ao
trabalho] foi, no entanto, aparentemente ignorada pelas bases do
sindicato”,
segundo assinalou o Long Beach Press-Telegram. Ao longo de toda
a costa
do Pacífico, os trabalhadores não se apresentaram ao
trabalho. “O porto de San
Diego fechou em virtude dos estivadores terem realizado uma greve de um
dia
para protestar contra a guerra no Iraque”, segundo um despacho da
agência
Reuters. “Apesar da ordem de um juiz trabalhista determinando que os
trabalhadores portuários não deveriam faltar ao trabalho
para participar dos
protestos do Primeiro de Maio, no porto de Seattle os acessos estavam
fechados
e havia poucos caminhões”, segundo uma reportagem da KIRO-TV. O
canal Fox
[cadeia de televisão conservadora] transmitiu imagens de portos
parados desde
Tacoma até Los Angeles. Em um artigo entitulado “Os
trabalhadores portuários se
ausentam no Primeiro de Maio, parando todos os portos da Costa Oeste”, Los
Angeles Times citava um professor que dizia: “Este sindicato se
considera a
vanguarda da classe operária na Costa Oeste”. Os
meios de comunicação informaram que a
paralisação dos trabalhos do turno da
manhã por parte dos 25 mil trabalhadores do ILWU tomou
força em todos os
portos. Cerca de 6 mil estivadores poderiam operar mais de 10 mil
contêineres
por dia. “Como não se está trabalhando, isso significa
que nenhuma carga está
embarcando nem desembarcando”, se lamentou Getzug em nome dos
patrões. Durante
o locaute patronal da PMA de 2002, se estimou que a perda
econômica em todo o
país foi de um bilhão de dólares diários.
Nos portos de Los Angeles e Long
Beach, “o ponto comercial dos Estados Unidos até a Ásia”,
que recebe cerca de
40 por cento das importações feitas pelos EUA., o Long
Beach Press Telegram
(2 de maio) informou que as “operações na maior parte dos
centros de transporte
marítimo estiveram paralisadas a maior parte do dia”. Um
porta-voz da empresa
Southern California Maritime Exchange disse que se esperava que
chegassem 18
navios cargueiros no 1º de maio, enquanto outros 12 já
estavam atracados.
Manter um navio cargueiro atracado em um porto sem descarregá-lo
custa ao redor
de 100 mil dólares diários. Na
Área da Baía de São Francisco, a totalidade dos 34
guindastes do porto de
Oakland estavam parados, a maior parte deles com seus braços no
alto. As
autoridades portuárias tentaram minimizar o impacto, dizendo que
só havia um
navio cargueiro no porto, porém nós pudemos ver pelo
menos quatro atracados no
cais e da Ponte da Baía se podia ver outros no porto. A empresa
Stevedoring
Services of America (SSA) tentou montar um turno reduzido, com o
óbvio
propósito de demonstrar que a paralisação
não lhes havia afetado. No entanto,
companheiros do ILWU fizeram piquetes ao amanhecer nos terminais,
impedindo a
operação fura-greve. A
organização Ação Direta contra a Guerra da
Área da Baía estabeleceu piquetes
com cerca de 60 militantes nas duas entradas ferroviárias de
Santa
Fe-Burlington Northern. Em uma entrada, mais de vinte sindicalistas do
transporte (UTU Local 239) não entraram para não cruzar o
piquete: alguns
decidiram chegar tarde ao trabalho e outros simplesmente foram para
casa. Na
outra, os caminhoneiros se colocaram ao lado da estrada e muitos se
recusaram a
cruzar a linha. A maior parte deles são
operadores-”proprietários” de origem
latino-americano que ganham apenas 80 dólares por
contêiner transportado, o que
não paga sequer o combustível. A maioria desses
transportadores deu apoio aos
piqueteiros. Um chofer sindicalizado dos Teamsters disse ao The
Internationalist: “Que tenham êxito realmente no que
estão fazendo. Alguém
deve parar a guerra.” Recordou também a luta dos trabalhadores
de limpeza do
Century City em Los Angeles, há uma década e meia, que
finalmente conseguiu o
reconhecimento de seu sindicato. Na
sede do Local 10 do outro lado da baía, em São Francisco,
os sindicalistas se
reuniam para passeata ao longo do Embarcadero. A
participação superou toda
expectativa. O contingente do ILWU incluía muitos trabalhadores
que nunca antes
haviam participado em uma manifestação. Quando cerca de
duzentos sindicalistas
sairam da porta da sede do sindicato, já havia cerca de mil
pessoas
esperando-lhes na rua. A manifestação foi
encabeçada pelo pelotão uniformizado
do Local 10, que realizou suas manobras de precisão. Uma banda
tocou
“Solidariedade para sempre” (um famoso hino operário
estadunidense adotado
pelos anarcosindicalistas da IWW em princípios do século
XX e logo retomado por
outras centrais sindicais). Haviam faixas da Associação
dos Docentes de Oakland
(sindicato do magistério), do Local 1741 do UTU (sindicato dos
transportes) e
de outros sindicatos. Participaram grupos anarquistas, sindicalistas e
socialistas. Havia também estudantes que faltaram as aulas na
Universidade
Estadual de San Francisco. A mobilização teve um
inconfundível tom de São
Francisco: diante da bandeira do ILWU no Primeiro de Maio, participou
da
passeata um grupo de bailarinas sindicalizadas (do Local 790 do SEIU)
do clube
de striptease Lusty Lady de North Beach, com cartazes que diziam: “As
bailarinas exóticas em solidariedade com o ILWU”. O
comício ocorreu na praça Justin Herman, próximo do
local onde dois estivadores
foram assassinados pela polícia conhecido como a “quinta-feira
sangrenta” de 5
de julho de 1934, o que detonou a greve geral em São Francisco.
A multidão se
animou consideravelmente quando o ator Danny Glover leu parte de um
discurso de
Martin Luther King contra a Guerra do Vietnã em que se
pronunciava a favor de
uma “revolução radical dos valores” e de uma
restruturação da economia
estadunidense. Houve também, uma saudação de
solidariedade à ação do ILSU por
parte de Mumia Abu-Jamal, que está há mais de um quarto
de século no corredor
da morte na Pensilvânia (ver quadro). Jamal citou as palavras de
outro
prisioneiro da guerra de classes, o dirigente socialista Eugen V. Debs:
“É a
classe dominante a que declara a guerra, mas é a classe
subjugada a que trava
as batalhas”. Luta
de classes contra a frente popular
O cartaz pela greve contra a guerra. “Parar a guerra no Iraque e no Afeghanistão! Defender os direitos dos trabalhadores! Defender os direitos dos imigrantes! Paremos todos os portos da Costa Oeste!” Se
a ação do sindicato e a passeata demonstraram o poder do
movimento operário de
São Francisco, o comício mostrou sua debilidade. Ainda
que o desencanto com o
Partido Democrata tenha colaborado a favor da paralisação
do trabalho contra a
guerra, os sindicatos seguem acorrentados aos partidos capitalistas,
especialmente por meio da burocracia sindical. Entre os oradores esteve
a ex
congressista do Partido Democrata Cynthia McKinney, que agora busca sua
indicação pelo Partido Verde a presidência. Ao
mesmo tempo que louvou aos
trabalhadores portuários por “traçar uma linha na areia”,
apelava a seus “ex
colegas” do Congresso para que ponham fim a “guerra de Bush e Pelosi”.
Falou
Cindy Sheehan, a ativista contra a guerra cujo filho foi morto no
Iraque e que
agora é candidata independente ao Congresso de São
Francisco, contra a
porta-voz democrata da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi.
Falou também uma
assistente da congressista democrata Barbara Lee, aclamada por haver
emitido o
único voto contra a declaração de guerra contra
Afeganistão (ainda que duas
semanas depois tenha votado a favor do orçamento de guerra). Vários
oradores sindicais fizeram chamados do tipo “manteiga, não
canhões”, vinculando
os cortes no gasto social e na educação com a guerra. No
entanto, uma
verdadeira luta contra a guerra no Iraque e Afeganistão
não tem que ver com os
cortes no orçamento. Se trata de tortura e terrorismo de estado
estadunidense,
da ocupação colonial e o domínio imperialista que
exerce os Estados Unidos no
mundo. A luta contra os ataques a educação e outros
serviços sociais ou a
exigência de serviços médicos para todos são
certamente necessárias, como parte
de uma luta de classes mais ampla. Entrentanto, apresentar
oposição a guerra
como se tratasse de se estabelecer outras prioridades, significa que os
oradores unicamente querem trocar a política do governo
ou quando muito,
“reformar” a economia. No fundo, é pedir aos democratas que se
oponham a Bush,
o que é na verdade o propósito do frentepopulista
movimento antiguerra. Tomados
no conjunto com os chamados a favor de “apoiar as tropas trazendo-as
sãs e
salvas para casa” equivale a jurar lealdade aos imperialistas, quando o
que faz
falta é uma ampliada luta de classes para derrotar a
guerra imperialista
e derrubar o sistema capitalista que produz uma guerra
atrás da outra. O
chamado “social patriota” foi explícito em uma carta do
presidente do ILWU, Bob
McEllrath, que foi lido ao público, em que dizia que “os
estivadores se
ausentam do trabalho, porém se colocam a favor dos Estados
Unidos. Apoiamos os
soldados e dizemos aos políticos em Washington que já
é hora de terminar a
guerra no Iraque”. Dizia também que as “grandes empresas
estrangeiras que
controlam o transporte marítimo global não são
leais nem prestam contas a
nenhum país”. Adiante acrescentou: “Porém nós
estivadores somos diferentes.
Somos leais aos Estados Unidos e não esperaremos enquanto nosso
país, nossos
soldados e nossa economia sejam devastados por uma guerra na qual
já perdemos 3
bilhões de dólares”. Esta tem sido a tônica dos
burocratas do ILWU desde o
início: se envolveram na bandeira estadunidense para fazer com
que a
paralisação portuária resulte o mais inofensivo
possível para os governantes
estadunidenses. Isto só serve para minar o impacto da
ação dos trabalhadores
portuários e é precisamente por isso que os burocratas
sindicais fazem tais
chamados: por descaracterizar e desmobilizar a greve que nunca quiseram
realizar. O
presidente do Local 34 do ILWU, Richard Cavalli, disse a
multidão que “esta
guerra não vai terminar pelos políticos que elegemos em
novembro há dois anos,
que tem fracassado de maneira escandalosa”. É certo que os
democratas não vão
por fim a guerra, pois agora representam o principal partido de guerra
em
Washington, pois canalizam milhões ao Pentágono. No
entanto, é completamente
falso que tenham “fracassado”. O que estão fazendo é
cumprir com seu dever de
classe como representante do imperialismo estadunidense. Único
entre os
oradores foi Jack Heyman, do Local 10, que chamou pela
construção de “um
partido operário, um partido dos trabalhadores que lute pelos
interesses dos
trabalhadores”. Não é casualidade que ele tenha sido o
autor da proposta a
favor da paralisação, sendo que ele também fez o
chamado, faz nove anos, para
que o ILWU fechasse os portos da Costa Oeste em exigência da
liberdade de Mumia
Abu-Jamal. Heyman disse na tribuna e mais tarde numa entrevista de
rádio que “o
que esta ação representa é o passo da luta do
nível de protesto ao da
resistência”. Esta descrição é bastante
adequada e também coloca a meta que
agora se enfrenta: passar da resistência a luta pelo poder,
para combater
os guerreiristas, os opressores racistas e os exploradores e colocar a
classe
operária no poder, tanto nos Estados Unidos como em escala
internacional. Há
resultado óbvio desde o princípio que há uma
divisão entre as bases e a direção
do sindicato no que toca a paralisação portuária.
Como anotamos em nosso
primeiro artigo sobre a ação (1º de maio), “A
direção do ILWU poderia
amedrontar-se, posto que esta proposta foi aprovada com o apoio
majoritário dos
delegados apesar de seus intentos de impedí-la – ou ao haver
falado em seu
intento, diluí-la ou limitá-la em seus alcances” (ver
suplemento especial de El
Internacionalista, 1º de maio). Explicamos então que os
burocratas
reduziram a paralisação de 24 a oito horas. Também
advertimos que a direção do
ILWU tentaria distorcer a ação com retórica
patriótica, ainda quando não havia
uma só palavra social patriota na resolução
aprovada pela assembléia dos
estivadores e ninguém dos que falaram na dita assembléia
falou de apoiar as
tropas. Assinalamos também como a esquerda oportunista, durante
anos, tem-se
recusada a lutar por greves operárias contra a guerra, dizendo
que se trata de
uma quimera ultraesquerdista [ver nosso artigo “Porque lutamos por
greves
operárias contra a guerra (e os oportunistas não)”].
Agora que houve uma greve
operária contra a guerra –e não graças a eles–
estes impostores se oporão a
ampliar e aprofundar estas ações operárias rumo a
luta pela revolução operária. O
indispensável partido revolucionário
O
êxito da greve contra a guerra dos Estados Unidos se deve
principalmente ao
empenho dos setores mais combativos do ILWU em manterem-se firmes. Se
recusaram
a renderem-se ante as vacilações de sua
direção diante das ameaças dos patrões
da PMA. O sentimento contra a guerra da grande maioria das bases do
sindicato
manteve em cheque os burocratas, de modo que no lugar de cancelar a
ação, como
as cúpulas do sindicato claramente queriam fazer, estas tentaram
evadir as
ameaças da ação legal ao apresentar formalmente a
greve como um assunto da
“consciência” individual. Porém isto não confundiu
em nada. Em várias
entrevistas, o porta-voz dos patrões se queixa: “Estamos muito
decepcionados
com a direção do sindicato, pois esta não cumpriu
com sua parte no contrato.”
“É ainda mais preocupante para nós porque designa algo
muito mais sinistro”.
“Se trata de um protesto voluntário contra a guerra ou de uma
greve encaminhada
a incidir sobre as negociações contratuais? Não o
sabemos… Estamos preocupados.
Pensamos que estes velhos truques era coisa do passado.” A verdade
é que se
tratou de uma ação operária organizada em todo
aspecto, na qual o sindicato em
seu conjunto se manteve firme. Esta é a razão de seu
êxito e de que sua
mensagem tenha sido tão potente: a favor da ação
operária para deter a guerra. Letreiro do principal
cine da cidade de Oakland, Califórnia: “Nós saudamos aos
estivadores pela greve do 1° de maio em protesto contra a
ocupação criminosa no Iraque”. O
Internationalist Group contribuiu de maneira significativa para o
êxito desta,
a primeira greve de trabalhadores estadunidenses contra uma guerra
imperialista
estadunidense, ao fazer propaganda sistemática e insistente a
favor de tais
ações classistas ao longo da última década;
ao intervir diretamente entre
trabalhadores portuários da Área da Baía de
São Francisco a favor de uma ação
industrial contra a guerra (lutando para que os trabalhadores se
recusem a transportar
material bélico, particularmente durante o locaute patronal da
PMA em 2002,
lutando por greves operárias contra a guerra em uma
confe-rência sindical em
São Francisco em dezembro de 2002 e contribuindo com a
organização da
Conferência Sindical para Parar a Guerra convocada pela
seção 10 em outubro do
ano passado e ao alentar passos práticos para lograr este
objetivo, para o qual
foi preciso vários anos de preparação. Com a
iniciativa do IG, nossos chamados
gerais e nossas sugestões particulares, intenciona-mos mobilizar
o poder da
classe operária organizada, que é a única que pode
converter este programa de
luta de classes em uma realidade. E finalmente, no Primeiro de Maio de
2008, os
trabalhadores do ILWU o fizeram: deram o primeiro passo até uma
ofensiva
operária para deter de uma vez a guerra e ocupação
colonial do Iraque e
Afeganistão. Ao fazê-lo, também assestaram um golpe
contra a ofensiva contra os
direitos democráticos e a guerra dos patrões contra os
imigrantes, as minorias
raciais oprimidas e a população trabalhadora deste
país. Agora
é indispensável ir mais além deste importante
começo e generalizar a luta por
ações operárias para derrotar a guerra
imperialista no exterior e também na
frente interna. Para isto falta construir uma
oposição classista no seio dos
sindicatos e das organizações de massas da classe
operária (incluídos os
trabalhadores imigrantes não sindicalizados) para jogar fora os
falsos
dirigentes pró capitalistas que tem vendido conquista
operária uma atrás da
outra. Estas direções vendidas são incapazes de
enfrentar a ofensiva
capitalista porque sustentam o sistema capitalista, especialmente
mediante seu
apoio ao Partido Democrata (e inclusive, em alguns casos, ao
Republicano).
Hoje, com sua política de conciliação e
colaboração de classes, estes
“estadistas sindicais” são responsáveis pela
implacável destruição do próprio
movimento sindical. Entretanto, os “líderes comunitários”
atam os imigrantes a
seus exploradores mediante “organizações não
governamentais” (ONGs) financiadas
pelo governo. Tais dirigentes não poderiam jamais reviver o
movimento operário
nem conseguir plenos direitos democráticos para os imigrantes. Contingente
do Internationalist Group e dos Clubs Internacionalistas da
Universidade da Cidade de Nova Iorque (CUNY) na marcha do 1° de
maio. “Estudiantes da CUNY apoim a greve
dos portuários contra a
guerra!” Cartaz de
fondo diz: “Partido Democrata
lança guerras, fura greves, inimigo de todos os trabalhadores.
Forjemos um partido operário revolucionário!” Sobretudo,
como enfatizaram Karl Marx e Friedrich Engels no Manifesto Comunista,
“toda luta de classes é uma luta política”. Engels
escreveu em sua introdução
de 1883 ao Manifesto que a idéia essencial de Marx
é que na história das
lutas de classe, “se chega a fase presente, em que a classe explorada e
oprimida –o proletariado– não pode já emancipar-se da
classe que a explora e
oprime – a burguesia– sem emancipar para sempre a sociedade inteira da
opressão, a exploração e as lutas de classes”.
Assim pois, para ganhar a
batalha contra os exploradores, a classe operária deve romper
com o estreito
sindicalismo e converter-se na defensora de todos os oprimidos. Deve
dirigir a
luta contra a guerra imperialista. Deve lutar por plenos direitos de
cidadania
para todos os imigrantes e mobilizar seu poder para deter as
prisões maciças e
deportações. Um movimento operário com
consciência de classe deve lutar pela
liberação dos negros e opor-se a todo e qualquer caso de
brutalidade policial;
deve estar pela libertação da mulher da dupla e as vezes
até tripla opressão
que sofre. Levar
a cabo estas tarefas exige uma verdadeira revolução nas
consciências dos
operários, que unicamente se pode lograr mediante a
intervenção de um partido
da vanguarda proletária que, como Lenin definiu suas tarefas,
atue como
“tribuno do povo” e não como um secretario sindical. Queremos
construir o núcleo
de um partido operário revolucionário mediante a
propaganda, mediante a
educação de seus futuros quadros e mediante a
intervenção ativa na luta de
classes. Esta luta é longe de ser simples e já tem tido
muitos reveses, desde a
sangrenta derrota da Comuna de Paris, passando pela vitória de
Stalin contra
Trotsky e do programa de Lenin da revolução socialista
internacional, até a
contra-revolução que destruiu a União
Soviética estalinizada e aos estados
operários burocraticamente deformados da Europa do Leste. No
entanto, a luta de
classe não se interrompe e depois de cada um destes reveses a
classe operária
deve fazer um balanço, analisar seus erros e rearmar-se
politicamente. Quando
temos êxito, como no caso desta primeira greve operária
contra a guerra na história
dos Estados Unidos, devemos ao mesmo tempo assinalar o caráter
limitado e
temporal de semelhantes vitórias parciais e prepararmos para as
novas batalhas
que se avizinham. Hoje
um sentimento “anti-partido” está na moda entre os esquerdistas
pequeno-burgueses.
No entanto, a paralisação contra a guerra dos
trabalhadores portuários da Costa
Oeste não caiu do céu. A combatividade das bases estava
presente, porém ao
longo de vários anos tem sido bloqueada pelos burocratas
sindicais, “os
lugar-tenentes dos capitalistas no seio do movimento operário”,
como os chamou
Daniel De Leon. Houveram os que lutaram por greves operárias
contra a guerra,
entretanto, outros não. Não somente os oportunistas
pseudosocialistas, mas
também muitos sindicalistas e anarquistas desdenharam os
primeiros informes
sobre o fechamento dos portos. Como escreveu Trotsky em seu livro Lições
de
Outubro (1924), resumindo a experiência da
Revolução Russa de 1917 e o
fracasso dos intentos revolucionários ocorridos na Alemanha
desde 1918 até
1923: “Não pode triunfar a revolução
proletária sem o partido, fora do partido
ou com um sucedâneo do partido. Tal foi o principal ensinamento
dos dez últimos
anos”. Esta lição não tem perdido nada de sua
vigência hoje em dia e em
consonância com ela é que a Liga pela IV Internacional
busca reforjar o partido
mundial da revolução socialista. n Broches do Internationalist Group: “Greves operárias contra a guerra!” “Plenos direitos de cidadania para todos os imigrantes!” “Defender o Iraque! Derrotar o imperialismo estadunidense!”
E-mail: internationalistgroup@msn.com |