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janeiro de 2010 Expulsar
tropas
militares de ocupação lideradas pela ONU, EUA e
Brasil
Haiti:
Solidariedade operária, sim ocupação militar não! A Liga Quarta-Internacionalista do Brasil na passeata de solidariedade com Haiti convocada por centrais sindicais e organizações de esquerda em Salvador, Bahia, o 30 de janeiro. Em Salvador ocorreu a rebelião dos malês (1835), levante dos escravos negros inspirado pela revolução haitiana. (Foto: Samuel Tosta)
O
seguinte artigo vem de um número especial de Vanguarda Operária (janeiro de 2010). O 12 de janeiro um terremoto
de magnitude 7 graus na escala Richter devastou a capital do Haiti,
Porto Príncipe,
deixando aproximadamente entre 100 a 200 mil mortos ou mais. O Haiti
está
posicionado em cima de uma placa tectônica, que o coloca
vulnerável a este tipo
de terremoto. Foi o pior terremoto no país nos últimos
200 anos e segundo
especialistas foi a mais letal tragédia das Américas em
todos os tempos e um
dos piores terremotos do mundo nos últimos cem anos. A
população mais pobre do
país que é o mais empobrecido das Américas do
norte, central e sul, que já vem
sofrendo de inúmeras privações desde muitas
décadas, sofreu mais este brutal
flagelo deixando-a nos limites da barbárie, semelhante aos
exemplos mais
trágicos já vividos pela humanidade. O mundo inteiro está
comovido
e alguns países prometem solidariedade à sofrida
população haitiana. As
agências de notícias internacionais divulgam
números citados por porta-vozes de
governos. Inglaterra e Bélgica, enviaram equipamentos
sofisticados para o
resgate de vítimas entre os escombros de casas e
edifícios desmoronados. A
China enviou uma equipe com especialistas em resgate, foi um dos
primeiros a
chegar a Porto Príncipe, ainda na noite de quarta-feira. Cuba,
que também
sentiu o terremoto, e que já teve mais de 400 médicos no
Haiti, além de
centenas de médicos haitianos
formados
nas escolas de medicina cubanas, enviou outros 50 médicos e
remédios. No entanto, os militares dos
Estados Unidos estão impedindo que
a
ajuda chegue aos haitianos necessitados. E nesta tarefa, estão
sendo ajudados
pelo contingente brasileiro que comanda a tropa de
ocupação da ONU, que esta
reprimindo os haitianos, acusados de saqueadores por encontrar-se com
uma bolsa
de leite em pó. Verificando as imagens exibidas pela
mídia internacional, o que
se percebe nas ruas de Porto Príncipe, são membros da
população se atracando
uns com os outros disputando ferozmente um pouco de água e algum
alimento em
meio a corpos decompostos espalhados pelo chão sobre e sob os
escombros
deixados pelo terremoto. Ou seja, na prática a ajuda é
absolutamente
insignificante, muitíssimo abaixo da imensa necessidade.
“Há risco de cólera e
tétano e uma enorme necessidade de unidades médicas
móveis", disse um
especialista à agência Reuters em Porto Príncipe. Ocupação militar
lideradas pela
ONU, EUA e Brasil Após
dez
dias do terremoto que devastou o
Haiti, por enquanto, mais de 12 mil militares dos EUA ocuparam o
aeroporto da
capital haitiana sob o pretexto de ajudar a organizar a
distribuição de água e
alimentos para a população sedenta e faminta. Na verdade
o que os ianques
buscam é tornar o Haiti um simples protetorado seu. Agências internacionais
“alertam
que muitos haitianos desabrigados ou feridos estão morrendo
enquanto as equipes
tentam superar o caos na organização da
distribuição da ajuda e alguns criticam
o controle excessivo dos americanos como parte do problema”. A ONG Médicos Sem
Fronteiras
(MSF) queixou-se nesta terça-feira que um avião carregado
de um quinto da sua
ajuda médica de emergência para os sobreviventes do
terremoto não recebeu
permissão para pousar no aeroporto de Porto Príncipe,
controlado pelos EUA
desde a semana passada. A organização
médica
humanitária com sede em Paris afirmou que “o avião com 12
toneladas de
medicamentos, material cirúrgico e duas máquinas de
hemodiálise teve de
desistir de pousar e desviar-se para a vizinha República
Dominicana”. O Brasil que já contava
com
cerca de 1.270 militares no Haiti, agora está embarcando mais
tropas e mais
armamentos. Dessa forma, o contingente total da missão de paz da
ONU comandada
pelo Brasil, conhecida como MINUSTAH, subirá para 12.651, em
relação ao nível
atual de cerca de 9.000. A mídia brasileira exalta
a
ocupação militar e lembra os militares e civis mortos no
Haiti insuflando o
orgulho nacional. No entanto omite o fato de que conscientes ou
não faziam
parte de um plano de colonização, liderados pelo Viva Rio
e militares do país
que anseiam fazer do Brasil uma espécie de sub-imperialismo na
América Latina. O envio de tropas brasileiras
ocorre ao mesmo tempo em que o governo Lula resmunga nos bastidores
contra seu
amo do norte pelo fato dos EUA não está permitindo livre
trânsito de seus
militares e aviões no aeroporto de Porto Príncipe,
também tentando mascarar e
disfarçar a opressão que exerce sobre o povo haitiano. O
site do Ministério da
Saúde no Brasil informa que mais de 1500 médicos
inscreveram-se como
voluntários para atuarem no Haiti e o presidente Lula prometeu
liberar cerca de
15 milhões de “ajuda humanitária” para compra de
medicamentos. Enquanto os EUA utilizavam
parte importante de suas tropas no Iraque, o Brasil se candidatou para
fazer o
“serviço sujo” liderando MINUSTAH, uma
indisfarçável força mercenária de
ocupação militar, sob a batuta da ONU.
Agora os serviçais brasileiros foram deixados de
lado e perante a mídia
mundial, EUA posa de bom moço e de promotor de
ações humanitárias, quando na
verdade o que faz é montar um governo paralelo no Haiti, uma
forma de garantir
o país como um de seus quintais nas Américas. Nesta semana o Jornal
do
Brasil noticiou que: “Haiti: ajuda a bancos foram 4
mil vezes superior a doações. A União
Européia anunciou segunda-feira que
enviará um total de 429 milhões de euros (o equivalente a
mais de US$ 600
milhões) em ajuda de curto e longo prazo ao Haiti, enquanto os
Estados Unidos
doarão US$ 100 milhões. Porém, o aporte financeiro
dado pelos países europeus e
americanos a bancos durante a crise financeira mundial foi 4 mil vezes
maior. O
socorro aos banqueiros na Europa chegou a US$ 2,28 trilhões e
nos Estados
Unidos, a US$ 700 bilhões. Só para a seguradora AIG (
International American
Group), o governo americano disponibilizou US$ 180 milhões –
quase o dobro do
valor doado ao Haiti.”. O governo Lula, por exemplo,
que acaba de fazer fanfarronada com a doação ao Haiti de
míseros 375 milhões de
reais, absolutamente insignificante ante os mais de 200 bilhões
de reais doados
aos capitalistas brasileiros para tentar salvá-los da crise
capitalista mundial
que vem sacudindo o mundo burguês nos últimos três
anos. Isso demonstra pela
milionésima vez que para o capitalismo e seus agentes o lucro
dos burgueses está
acima de tudo e particularmente quando se trata de salvar pessoas da
população
pobre. Todavia quando se trata de salvar as instituições
capitalistas os
“livres-mercadistas” utilizam todo poderio econômico do Estado
burguês para
protegerem seus pares. O presidente da Venezuela,
Hugo Chávez, principal crítico de Washington na
América Latina na atualidade,
acusou os EUA de ocuparem o Haiti sob pretexto de prestarem ajuda e
enviou um
avião militar com alimentos, remédios e água
potável, além de uma equipe de
resgate com 50 pessoas. O
vice-presidente da Bolívia, Álvaro García
Linera, disse nesta terça-feira que os Estados Unidos pretendem
estabelecer uma
presença militar permanente no Haiti por meio das tropas
enviadas ao país para
auxiliar a população local após o terremoto. Ele
afirmou ainda que a presença
militar é parte de uma estratégia norte-americana para
“controlar o continente”. Entretanto, os governos de
“esquerda” na América Latina, lideradas por Lula, tais como como
Evo Morales da
Bolívia e Rafael Correa do Equador também tiveram suas
tropas terceirizadas
pelos EUA e a ONU e mantém pequenos contingentes de tropas no
Haiti sob a
liderança brasileira através da cinicamente chamada
Missão das Nações Unidas
para a Estabilização no Haiti, um conglomerado de tropas
de diversos países,
serviçais do imperialismo que agem como capitães do mato
deste, reprimindo a
combativa população haitiana, uma indiscutível
colaboração com o imperialismo
destes governos da chamada onda de “esquerda” que foi eleita na
América Latina
na última década com discursos de combate ao que eles
chamam de
“neoliberalismo”. Mobilizar o poder da classe
operária As campanhas
“humanitárias”
organizadas pelos burgueses e países capitalistas através
da Cruz Vermelha são
absolutamente insuficientes e hipócritas. Estas campanhas visam
apenas
massagear os egos e a vaidade dos burgueses que querem posar de
bonzinhos
perante a mídia e a opinião pública mundial e mal
disfarçam o apoio que dão às
forças de ocupação que estão posicionadas
no Haiti massacrando a população
tentando minar sua capacidade de luta. A MINUSTAH liderada pelo
Brasil, não passa de uma força militar de
ocupação, caracterizando uma frente
popular militarizada serviçal do imperialismo que arrasta em
torno de si países
com governos de “esquerda” latino-americanos como a Bolívia,
Venezuela e
Uruguai. É necessário que
as
organizações operárias liderem campanhas de
solidariedade à população haitiana
imediatamente, organizando através dos sindicatos
doações de remédios, roupas,
alimentos e organizem comboios para que estas ajudas de fato cheguem
até a
população haitiana. Mais do que nunca, sem abandonar
a solidariedade, lutar para construir um partido operário
revolucionário e
avançar na luta pela revolução socialista neste
combativo país caribenho, o
único país no mundo onde houve uma
revolução vitoriosa de escravizados no
século XIX cujos reflexos se estenderam como um rastilho de
pólvora em todas as
Américas deflagrando a luta pela abolição da
escravatura no chamado “novo
mundo”. Esta introdução
é
parte de uma coletânea de textos
publicados neste jornal pela Liga Quarta Internacionalista do Brasil e
o Comitê
de Luta Classista, uma autêntica campanha classista para expulsar
as tropas
invasoras do Haiti lideradas pela ONU, EUA e Brasil.
E-mail: internationalistgroup@msn.com |