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março de 2005 Do
Iraque até o Brasil:
A
libertação da mulher só é possível mediante a revolução socialista
Boletim da Liga
Quarta-Internacionalista do Brasil, seção da Liga pela
Quarta Internacional, com base na palestra promovida pelo jornal Vanguarda
Operária no Sepe –RJ (18/02/05) e
no Sepe Volta Redonda (23/02/05) Neste 8 de
março, Dia Internacional da Mulher, constatamos que os direitos
da mulher estão
sob ataque ao nível mundial, desde o Iraque, onde as autoridades
da ocupação
colonial impõem uma ascendência xiita, até no
coração do império, onde o
direito ao aborto está sendo ameaçado não somente
pelos republicanos de Bush,
mas também pelos democratas. Aqui no Brasil, no terceiro ano do
governo
encabeçado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do
Partido dos
Trabalhadores, nem sequer temos conquistado o direito elementar para a
mulher
controlar seu próprio corpo e terminar a gravidez não
desejada. Há mais de um
milhão e quatrocentos mil abortos
clandestinos cada ano, e milhares de mulheres morrem anualmente devido
as
complicações dos mesmos. Ao mesmo tempo quase 14
milhões de mulheres, 45 por
cento das trabalhadoras empregadas e sobretudo mulheres negras, ganham
até o
salário mínimo, um dos mais baixos do mundo capitalista.
Mas o governo da
frente popular de Lula, que ata os trabalhadores e as mulheres a seus
exploradores e opressores, se opõe a conquista do direito ao
aborto e
defende com unhas e dentes um salário mínimo de fome. Nós, da Liga Quarta-Internacionalista, que nos opomos frontalmente ao frentepopulismo do PT durante 15 anos, lutamos pelo direito irrestrito ao aborto livre e gratuito, à demanda da mulher, com atenção médica de alta qualidade; creches gratuitas, abertas 24 horas por dia, para atender às necesidades das mães trabalhadoras; para salário igual ao trabalho igual; pela socialização das tarefas domésticas e pela integração da mulher ao trabalho social fora do lar. Ao mesmo tempo, advertimos que lutar simplesmente por dobrar o salário mínimo de miséria (e isto somente em 4 anos!), como propõe a Marcha Mundial das Mulheres, deixaria milhões de trabalhadoras condenadas à pobreza. As feministas aceitam o sistema capitalista, só buscam suavizar suas consequências. Os trotskistas, ao contrário, insistimos que nenhum governo burguês não vai, nem pode, tomar as medidas econômicas que assentará a base pela verdadeira igualdade do gênero e da libertação da mulher de sua opressão secular, que só será possível mediante a unificação dos esforços dos operários e operárias na revolução socialista internacional. 8 de Março – Dia Internacional da Mulher – e a luta revolucionária O Dia
Internacional da Mulher é uma festa proletária. Desde o
início do século XIX a
mulher vem lutando pelos seus direitos: jornada de oito horas de
trabalho,
contra o trabalho infantil, igualdade de voto para a mulher. No ano
1857, umas
grevistas na cidade de Nova Iorque marcharam o 8 de março para
exigir melhores
salários e condições de trabalho. Na grande greve
das costureiras de 1908-1909
na mesma cidade, as trabalhadoras comemoraram esta data. Inspirado
nesta luta,
a dirigente socialista (logo comunista) alemã Clara Zetkin
propunha à Segunda
Internacional adotar oficialmente o 8 de março como Dia
Internacional da
Mulher. Foi celebrada pela primeira vez na Alemanha em 1911. Duas
semanas mais
tarde, 148 operárias de uma fábrica de vestimenta em Nova
Iorque morreram num
incêndio trágico, tragédia que serviu logo para
incentivar a sindicalização das
mulheres. O 8 de março foi comemorado pela primeira vez na Rússia em 1913, organizado pelos bolcheviques que apresentavam em seu jornal análises da opressão da mulher e o programa para sua emancipação. Em 1914, Anna Ulyanova Elizarova – irmã de Lênin – publicou o primeiro número da revista Rabotnitsa (A Operária), sob condições muito perigosas, pois a polícia czarista prendeu todos os membros do conselho da redação da revista menos ela. Foi a primeira revista especial sobre as questões da libertação da mulher na Rússia e no mundo. Nadezhdada Krupskaya, companheira de Lênin, escreveu no artigo de capa do primeiro número de Rabotnitsa: “O que
une a operária e o operário é mais forte que o que
os divide. Os une sua falta
de direitos, suas necessidades comuns, sua situação
comum, que é a luta, e sua
meta comum.” O Dia
Internacional da Mulher mais importante na história ocorreu em
Petrogrado em 8
de março de 1917, quando operárias têxteis
iniciaram uma greve “pelo pão e a
paz” com a participação de mais de 90 mil
operários. Foi o começo da Revolução
Russa, que resultou na tomada do poder pelos soviets, sob
direção bolchevique,
na Revolução de Outubro que originou o primeiro estado
operário da história.
Entre as destacadas dirigentes comunistas houve Rosa Luxemburg (chefe
do
Partido Comunista de Alemanha, assassinada às ordens dos
socialdemocratas
alemãos em janeiro de 1919), Alexandra Kollontai, e outras. A
jovem república
soviética pronto legalizou o aborto e o divórcio,
estabelecendo a igualdade das
mulheres. Mais importante ainda, começou edificar as bases
econômicas que faria
possível a libertação da mulher (creches,
restaurantes e lavanderias coletivos,
etc.). A Internacional Comunista adotou a prática dos
bolcheviques de criar
organismos especiais pelo trabalho entre as mulheres, para ganhar as
melhores
lutadoras à causa revolucionária. Muitas
destas conquistas foram revertidas ou limitadas logo da
contra-revolução política
realizada por Stalin e a capa de burocratas nacionalistas que
traicionaram a
política internacionalista dos bolcheviques Lênin e
Trotsky. Mas a base
econômica da coletivização dos meios de
produção ficou, mesmo fortemente
debilitada, até a contra-revolução social que
terminou com a União Soviética e
os estados operários deformados da Europa do Leste em 1989-1992.
Foi por isto
que os trotskistas, ao lutar pela revolução
política proletária para derrubar a
burocracia parasita, sempre defendíamos a URSS contra o
imperialismo e a ameaça
da restauração capitalista. Logo do restablecimento do
domínio capitalista, a
vida dos trabalhadores e das trabalhadoras tem-se convertido num
verdadeiro
inferno. Na Alemanha Oriental (ex-RDA), a porcentagem de mulheres que
trabalham
fora do lar caiu de 95% a 50%, e mais de 500.000 professores foram
demitidas
por “comunistas”. Ofensiva reacionária global contra a mulher Atualmente o Dia Internacional da Mulher é comemorado em vários países, mas esta homenagem perdeu o verdadeiro sentido de um dia de luta proletária. A burguesia com seus aparelhos ideológicos querem demonstrar o valor da mulher somente como dona de casa, mãe, esposa. Há todo um esforço para confinar a mulher no lar. Uns dos instrumentos usados para isto são as novelas com suas tramas amorosas, a mulher sempre apaixonada, desejosa por um casamento para constituir família. Engels no seu livro A Família, a propriedade privada e o Estado mostra-nos que a desvalorização e a opressão da mulher iniciou na formação da família monogâmica, a qual, junto com o acúmulo de produtos excedentes (o sobre-produto) deu origem a herança e a necessidade para garantir a paternidade, levando à formação de classes e do Estado para defender os interesses das classes dominantes. Dessa forma a mulher foi confinada, e passou a ser propriedade do homem. Com o
desenvolvimento da indústria a burguesia necessitou da
mão de obra feminina.
Isto fez com que a mulher retornasse ao trabalho, um dos pontos da sua
emancipação, mas com a exploração, fazendo
da mulher mão de obra barata. Sem
nenhuma assistência para cuidar dos filhos, sem creches,
restaurantes e
lavanderias gratuitas, o trabalho tornou-se um fardo para a mulher.
Hoje, novas
indústrias de alta tecnologia empregam com preferência
trabalhadoras jovens,
muitas delas mães solteiras. A mulher já ocupa
vários postos de trabalho, mas
com salários abaixo do que o homem ganha. Mesmo com toda a
opressão, a mulher
continua lutando por seus direitos, o que segue sendo uma
preocupação para a
burguesia. Como
escreveu o socialista utópico francês Charles Fourier
há quase dois séculos, no
1808, numa frase memorável citado por Karl Marx no Capital,
“O grau de
emancipação da mulher é a medida natural da
emancipação em geral”. Para os
marxistas, a contraparte desta observação é que a
libertação da mulher de sua
opressão e exploração secular é
estreitamente ligado à luta de todos os setores
dos oprimidos. (Ver o folheto da Liga Quarta-Internacionalista, Libertação
da mulher mediante a revolução socialista.) Ao redor do mundo o ataque contra as mulheres tem sido brutal, principalmente nos países semicoloniais. O Jornal do Brasil (06.02.05) informou recentemente num artigo titulado, “Onde ser mulher é um risco”: “Na
Índia o número de mulheres é bem menor do que os
homens, para cada 1.000
homens, há 927 mulheres. Em Punjab, a média é de
793. A preferência por bebês
do sexo masculino, leva ao feticídio de meninas, no estado de
Punjab, norte do
país, os casos de desnutrição severa é bem
maior nas recém-nascidas, 18,35% do
que os bebês varões, 2,35%, segundo dados do governo. O
número de meninos
alfabetizados é o dobro do de meninas, no que diz respeito ao
tratamento de
doenças, a preferência é para eles. Neste
país 80% dos indianos seguem a
religião hindu, responsável pela crença da
perpetuação da família pela linha
patriarcal. Muitas mulheres sofrem maus-tratos do marido e dos sogros
se não
têm um bebê do sexo masculino.” No norte da
Nigéria foi introduzida a lei islâmica (a sharia).
A Liga pela Quarta Internacional protestou contra o caso de Safiya
Hussain, uma
mulher de 35 anos condenada a morte por apedrejamento pelo suposto
“crime” de
adultério. “A única prova contra Safiya é que ela
estava grávida e não era
casada. ‘Quanto a mulher que não tem marido, mas tornou-se
grávida deve ter
cometido adultério, disse o governador.” Depois de protestos
internacionais, a
condenação foi anulada, mas outras foram condenadas
após (ver matéria completa
no jornal da LQB, Vanguarda Operária No. 8,
janeiro-fevereiro de 2003). No Afeganistão e o Iraque: a mulher sob ocupação colonial Hoje no Afeganistão, os imperialistas se jactam do “triunfo” da suposta “democracia” já que as afeganêsas votam. No embora, as mulheres afegãs ainda estão atadas numa escravidão feudal. O presidente Bush dos EUA se gaba de ter invadido o país e derrubado o regime dos Talibãs para libertar as mulheres. Mas os Talibãs, iguais os muyahedin rivais que agora estão no poder em Kabul, foram financiados, treinados e abastecidos com munição nos anos 80 pelos imperialistas que criaram uma força contra-revolucionária para combater à União Soviética e o regime burguês reformista no Afeganistão. Naquela época os guerreiros islâmicos matavam os professores e as professoras por alfabetizar as meninas. Toda a “esquerda” brasileira (PT, PSTU, PCO, POR e outros) participou na histeria anti-soviética, enquanto os trotskistas autênticos disseram “Viva o Exército Vermelho no Afeganistão! Estender as conquistas sociais da Revolução de Outubro aos povos do Afeganistão!”. Depois que
Gorbachov e a burocracia stalinista retiraram as forças
soviéticas do país,
passo que deu um golpe mortal à existência mesma da
União Soviética, a situação
da mulher afegã sofreu um grande retrocesso:
ilegalização da educação para
meninas, demissão de todas as mulheres professoras. Dez anos
depois, os
imperialistas “descobriram” a situação infernal das
mulheres afegãs, para converter
este tema em bandeira de sua terrorista “guerra contra o terror”.
Enquanto
muitos esquerdistas ficaram calados diante da opressão da mulher
na
Afeganistão, e até escusam ela com referências
à cultura islâmica, a Liga
Quarta-Internacionalista e o Comitê de Luta Classista denunciamos
isto. Em
2002, no congresso da Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação
(CNTE), a delegada do CLC apresentou moção em defesa da
mulher afegã que dizia
entre outras: “Em Kabul e outras
partes, as mulheres, com a exceção de algumas
especialmente corajosas, seguem sob a prisão portátil da burka (véu que cobre todo o corpo e faz da mulher
um ser sem cara).
Elas caminham ainda como sombras entre as ruínas das cidades e
aldeias
destruídas pelas bombas dos aliados fundamentalistas do
imperialismo durante 20
anos e logo pela guerra atual dos imperialistas. Agora que a
‘liberdade’ foi
supostamente realizada, os porta-vozes capitalistas dizem que as
mulheres usam
a burka não devido ao terror do
Talibã mas sim porque elas supostamente decidem ‘livremente’
cobrir-se com esta
mortalha. Os imperialistas ‘ganharam’, e as mulheres afegãs
perderam de novo.” O PSTU designou uma militante mulher para defender contra
a aprovação da
moção. Logo de seu
“triunfo” no Afeganistão no final de 2001, os imperialistas
invadiram o Iraque
em março de 2003, impondo uma sanguinária
dominação colonial. Os porta-vozes do
imperialismo yanque sustentam que seu propósito foi de libertar
os iraquianos
do jugo do “diabólico” ditador Saddam Hussein. Longe disto,
sumergiram os
iraquianos num inferno. Recentemente, logo de instrumentar
pseudo-eleições na
ponta de fuzil a finais de janeiro, os administradores coloniais agora
estão
orquestrando um pseudo-governo xiita. Estes sátrapas dos
verdadeiros
imperadores do país mesopotâmio tem declarado sua
intenção de impor a sharia,
a lei islâmica, o que colocaria a mulher formalmente sob o
controle do homen,
isolando ela e institucionalizando a privação de seus
direitos democráticos. O
“Conselho de Governo Iraquiano” que serviu de pantalha pelos
imperialistas já
tentou isto ao emitir o Decreto 137, em dezembro de 2003, o que
originou um
protesto de mulheres em Bagdá e outras cidades iraquianas. Até a Guerra
do Golfo de 1990-1991, o Iraque era um dos países mais laicos do
Meio Oriente,
ainda que os avanços sociais foram largamente restringidos aos
centros urbanos.
As mulheres na capital e nas grandes cidades se vestiam ao estilo
europeu, como
também faziam os homens; as moças até portavam
mini-saias. Se refletiam não somente
na vestimenta: havia quantidades importantes de acadêmicas,
médicas e milhares
de professoras. Mais não foi isto resultado de nenhuma virtude
de Saddam
Hussein, um ditador nacionalista brutal tipo Chiang Kai-shek em China
antes da
revolução. Nos anos 60 e 70, Hussein foi o “homen da CIA”
em Bagdá,
especializado nos golpes de estado e matar comunistas. Os avanços relativos da mulher iraquiana foram a consequência do fato de que o país experimentou o começo duma revolução social em 1958, com a queda da monarquia Hashemita imposto pelos britânicos. A primeira lei de status da pessoa foi emitida em 1959, pelo governo do general Kassem, que incluia uma ministra do Partido Comunista. Haifa Zangana, ex-novelista que foi prisioneira no regime de Saddam Hussein, relata: “As
iraquianas estiveram envolvidas, inclusive nos combates, na
revolução de 1920,
contra a ocupação britânica. Nos anos 1950, os
partidos políticos criaram
comitês de mulheres. Todos esses casos refletem o mesmo
princípio: ao lutar ao
lado dos homens, as mulheres estão, ao mesmo tempo, liberando a
si mesmas. Lema
comprovado quando, em 1958, na derrubada do regime monárquico
herdado dos
britânicos, as iraquianas conseguiram em dois anos o que a antiga
colônia
tentou por 30 anos na região: igualdade jurídica.
‘Raramente, no mundo árabe,
as mulheres têm tanto poder como têm no Iraque. No
país, homens e mulheres têm
de receber o mesmo pagamento pelo mesmo trabalho. Os ganhos da esposa
são
reconhecidos como independentes dos recursos do marido. Em 1974, foi
estabelecida a educação gratuita para todos e em 1979,
obrigatória para meninos
e meninas até 12 anos’, diz um relatório da Unicef, de
1993.” O PC, seguindo a dogma
stalinista de uma “revolução
por etapas” deu apoio político ao militar nacionalista
burguês Kassem, e logo a
Saddam Hussein. Em recompensa por esta traição reformista
aos intereses dos
trabalhadores iraquianos, milhares de comunistas foram fuzilados. Mesmo assim,
Hussein não podia eliminar todos os avanços sociais
conquistados naquele então,
apesar de buscar a convivência com os islamistas. O que ele
não conseguiu, os
imperialistas agora estão logrando: jogar atrás as
mulheres às condições
medievais. Hoje em dia a mulher iraquiana que sai às ruas sem
véu preto (uma
vestimenta-prisão que envolve o corpo inteiro, da cabeça
até os pés) corre o
risco de ser assassinada, se não foi pelos fundamentalistas
xiitas aliados com
a ocupação norte-americana, então poderia ser
também pelos fundamentalistas
sunitas que dominam a oposição ao regime colonial. Hoje,
os trotskistas lutamos
pela derrota dos imperialistas no Iraque e no Afeganistão e pela
defesa dos
povos desses dois países, saudando
todo
golpe ao regime colonial. Mas o fazemos desde posições
proletárias e
internacionalistas, ao mesmo tempo que advertimos contra o perigo dos
islamistas que não são, para nada, inimigos do
imperialismo senão que buscam a
convivência como o Grande Satã. No Brasil, a frente popular de Lula perpetua a opressão da mulher
No Brasil, a
questão da mulher é diretamente ligada a toda a gama de
opressão social. É
indivisível da luta dos camponeses sem terra. A mais importante
figura que
simboliza a violência contra a mulher é a de Margarida
Maria Alves, líder
sindical de trabalhadores agrícolas assassinada há 20
anos, a mando de
usineiros de Paraíba. Sua morte é comemorada cada dois
anos, no 26 de agosto,
pela “Marcha das Margaridas”. Mesmo que agora a frente popular de Lula
está no
Palácio do Planalto, seguem as execuções a sangue
frio de lutadoras e lutadores
feitos à mãos dos jagunços contratados. Prova
contundente disto foi o
assassinato recente da religiosa Dorothy Stange por um pistoleiro
mandatado por
um fazendeiro acusado de manter trabalho escravo. Enquanto o governo
Lula tem
cumprido à risca os programas antioperários do FMI e
não cumpre sequer com suas
próprias metas mínimas de reforma agraria, pretende
responder à miséria dos
mais pobres com os programas assistencialistas “Fome Zero” e “Bolsa
Família”.
Mas estes não passam de uma contribuição
ridícula de alimentos às famílias
famintas. A opressão
da mulher está intimamente ligada também ao problema dos
meninos e meninas de
rua, que passam por privações, humilhações,
agressões, tortura e assassinatos,
principalmente por policiais. O caso mais famoso foi em 1993 no Rio de
Janeiro,
quando oito menores que dormiam no centro da cidade, próximos a
igreja da
Candelária, foram executados a tiros por policiais. Mas
não é somente uma
questão da história. O Jornal do Brasil
(30/01/05) informe num manchete
“Menores são exterminados – Em um ano, 51 crianças e
adolescentes morreram de
forma violenta no Centro. ONGS suspeitam de ação
planejada.”. As crianças e
adolescentes também ficam a mercê dos gângsters da
prostituição e do tráfico de
drogas, e dos militares que aterrorizam as favelas em nome da “guerra
contra a
droga” a qual, na realidade, é uma guerra contra os pobres. Hoje
a tortura é
mais freqüente que nos anos da ditadura, só que agora
não existe protesto
contra, devido a que já não são os
filhos da classe média que são torturado
senão os favelados. Na América Latina a igreja católica (diretamente e através de organizações como Pró-Vida Família) junto com muitas seitas protestantes fundamentalistas são baluartes da reação social, que buscam encadear a mulher à família. São implacáveis adversários do direito ao divórcio, ao uso de contraceptivos e ao aborto, até mesmo nos casos de fetos anencefálicos (que carecem de cérebros). O principal dirigente dos católicos no Congresso, Severino Cavalcanti, autor de um projeito de lei para proclamar um “Dia do Nascituro”, acaba de ser eleito presidente da Câmara dos Deputados como resultado de uma manobra de Anthony Garotinho, do PMDB. A atual governadora do estado de Rio de Janeiro, Rosinha Garotinho (PMDB), quer infringir a constituição que garante a escola laica, conquista feita no Iluminismo. Ela quer voltar a Idade Média, ao período das trevas, impondo a ferro e fogo o ensino religioso. O aborto é
um dos pontos fundamentais em defesa da mulher. Neste sistema
capitalista onde
muitas mulheres não têm como cuidar dos seus filhos acabam
abandonando-os. As
mulheres votaram em sua grande maioria pelo Partido dos Trabalhadores
de Lula
nas eleições de 2002, e muitas ativistas petistas agora
ocupam posições
governistas. Em julho do ano passado, a 1a Conferência Nacional
de
Políticas para as Mulheres aprovou uma diretriz pela
legalização do aborto.
Embora, o PT, a despeito disto, não tem defendido o
direito ao aborto. O
mesmo Lula pediu à Conferência mostrar “paciência de
mulheres” para com seu
governo (Folha de S. Paulo, 16/07/2004). As
organizações feministas
pensavam que finalmente conseguiram mover ao governo petista quando o
ministério da saúde emitiu, em setembro, uma “norma
técnica” pelo atendimento
médico em caso das mulheres que abortam, e o Supremo Tribunal
Federal aprovou
uma liminar que autorizaria o aborto em casos de anencefalia. Mais
estas
medidas ate agora tem sido bloqueadas. Não são
sómente as forças políticas abertamente
reacionárias que tem obstaculizado a
conquista do direito ao aborto. A igreja católica tem defensores
dentro do PT,
como é o caso da deputada Ângela Guadagnin de São
Paulo, integrante do Pró-Vida
em sua diocese, que agora se pronunciou contrária à
ampliação das leis que
atualmente permitem o aborto somente em caso de estupro e de risco para
a vida
da mãe. Outros prominentes petistas que se opõem
ferozmente ao direito ao
aborto são a senadora Marina Silva, do PT do Acre, e
Hélio Bicudo, que foi o
vice prefeito de São Paulo no governo de Marta Suplicy. Numa
entrevista com Folha
de S. Paulo (13/12/2004), Bicudo declarou “inoportuno” o debate
sobre o
aborto, se pronunciando “absolutamente contra” o aborto em casos de
fetos sem
cérebro. Agora, o governo federal tem anunciado que não faria nenhuma mudança na legislação sobre o aborto, e deixa os deputados livres de votar segundo sua “consciência” sobre o tema (em contraste com o voto da “reforma” da previdência, quando expulsou aos parlamentares do PT que votaram contra este ataque aos trabalhadores). Mas a “esquerda” tampouco combate em forma séria a negativa do PT de legalizar o aborto. Está aliada aos partidários católicos da Teologia da Libertação dentro do PT, e não combate às forças retrógradas porque elegeu este governo de frente popular que sustenta o sistema capitalista. Certamente, cada 28 de setembro celebra-se ritualmente o Dia Latinoamericano pela Legalização do Aborto. Más pelo 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a mesma Marcha Mundial de Mulheres nem sequer menciona o direito ao aborto em sua “Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade”. Suas “17 reivindicações” somente fazem uma recomendação tímida de “reconhecer o direito da mulher de decidir sobre a sua vida, seu corpo e sobre as suas funções reprodutivas”. Isto não é fortuito, porque a marcha se baseia nas conferências internacionais sobre a mulher auspiciadas pelas Nações Unidas, e estas (em Beijing e Cairo) se negaram a defender o direito a abortar devida à pressão dos governos islâmicos, da igreja católica e das igrejas protestantes fundamentalistas. No fundo, as feministas e os reformistas do PT não lutam pelos direitos da mulher porque não combatem classe dominante e os governos burgueses que defendam interesses dela. Por isto também não defendem os direitos dos homosexuais, vitimizados pelas forças reacionárias que os consideram um “perigo” à familia, a base do tradicionalismo e do conservadorismo na sociedade capitalista. Os trotskistas, que lutamos pela abolição da família tal como é reivindicada no Manifesto Comunista, e sua substituição por instituições coletivas que libertam a mulher da escravidão doméstica, ao mesmo tempo defendemos a absoluta igualdade de direitos pelos gays, incluindo o direito ao casamento ou às uniões civis. Na verdade este governo burguês de frente popular segue a mesma política dos presidentes anteriores. Suas prioridades são para os grandes empresários, tem cumprido à risca os programas antioperários do FMI. As mulheres petistas em posições proeminentes de governo, como a ex-governadora do RJ, Benedita da Silva, e as ex-prefeitas de SP Marta Suplicy e Luiza Erundina (agora no PSB) não somente não tem feito nada pelos direitos da mulher, se mostraram fura-greves ferozes no interesse do capital, enviando a polícia para chicotear as cabeças dos e das sindicalistas em luta. Somente através da construção de um verdadeiro partido operário revolucionário que luta pela revolução socialista internacional será conquistada a emancipação definitiva de mulher de sua opressão, libertando assim a capacidade criativa da metade de humanidade das travas que impedem uma vida digna e sua plena participação numa sociedade sem classes. n
E-mail: internationalistgroup@msn.com Voltar à página principal da LIGA QUARTA-INTERNACIONALISTA DO BRASIL Voltar à página do INTERNATIONALIST GROUP |