Traição: a LER-QI votou contra greve no metrô de S.P.
Centristas que furam greves
Trabalhadores do metrô de São Paulo votam pela greve em maio de 2012. Desta vez não, e os seguidistas da LER votaram contra e furaram a greve nacional do 11 de julho.
No dia 25 de junho, após duas semanas de enormes e combativos protestos em todo o país contra a repressão brutal de manifestantes em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, os dirigentes das principais centrais sindicais de Brasil (CUT, Força Sindical, UGT, CTB, CGTB, CSB e CSP/Conlutas) finalmente deram sinais de vida e reuniram-se para anunciar um Dia Nacional de Lutas e Paralisações para o dia 11 de julho. Mesmo sendo convocados por pressão do Inverno Quente das Jornadas de Junho pelos burocratas cuja principal tarefa é servir a burguesia ao socavar as lutas operárias, o anúncio despertou grandes expectativas em setores da classe. Configurou uma luta que começou nas ruas e se estendeu às fábricas, levando milhões a cruzarem os braços. Algumas agências de noticias (por exemplo, Terra, do 10 de julho) até falaram de uma greve geral.
O dia 11 foi uma primeira tentativa de ação operária conjunta contra a política do governo federal, dos estados e municípios. Houve paralisações importantes nos portos, no transporte público de várias cidades (Porto Alegre, Belo Horizonte), nas refinarias de petróleo e outros setores. Ainda que estivesse longe de ser uma greve geral, informes críveis calculam que cerca de três milhões cruzaram os braços. Além das palavras de ordem acordadas, as cúpulas sindicais buscavam impor cada um sua própria política: a Central Única dos Trabalhadores em apoio do plebiscito e planos de pseudo-reforma política da presidenta Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores, a Força Sindical combinando com partidos de direita para se opor ao governo de frente popular dilmista.
Nesta situação, particularmente em vista da ausência do movimento sindical nos protestos de rua das Jornadas de Junho, a tarefa dos revolucionários e sindicalistas com consciência de classe para o dia 11 de julho foi de mobilizar massivamente as bases operárias para fazer greve sobre um programa classista que aponte à luta pelo poder e a derrubada do capital.
Quanto à Liga Quarta-Internacionalista do Brasil (LQB) e o Comitê de Luta Classista, fazíamos precisamente isto. O CLC distribuiu um pequeno boletim intitulado, “Greve geral, derruba o capital” com um programa de reivindicações e palavras de ordem transitórias rumo a um governo operário camponês. Na cidade do aço, Volta Redonda, fomos os únicos a alugar nos dias anteriores um carro de som que percorreu à cidade. Na madrugado do dia 11 de julho, junto com metalúrgicos classistas e outros sindicalistas lutávamos pela ocupação operária da Companhia Siderúrgica Nacional. Entretanto, alguns ultra-esquerdistas defendiam boicotar e não participar dos atos das centrais sindicais, deixando assim os trabalhadores de base nas mãos dos burocratas ao invés de lutar contra estes “suplentes trabalhistas dos capitalistas”.
Um caso a parte é a Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional (LER-QI). Mesmo havendo chamado pela participação nas greves, paralisações e marchas no dia 11, a corrente sindical apoiada politicamente pela LER no Metrô de São Paulo (Metroviários pela Base) finalmente votou na véspera contra a greve e no dia 11 não tentou paralisar este setor chave e desta maneira vergonhosamente furou a ação operária deflagrada pela quase totalidade do movimento sindical. Com certeza, esta corrente sindical minoritária sozinha não teve a força de impedir a greve, mas o fato de não paralisar o Metrô paulistano foi sabotagem, preferida por todos os jornais e meios de comunicação burgueses como prova de “baixa adesão” dos trabalhadores.
A LER esteve consciente disso. No dia 4 de julho, Metroviários pela Base emitiu um boletim, “Por que devemos parar no dia 11?” onde explicavam que teria que paralisar porque “fortalece a mobilização nacionalmente, já que o Metrô cumpre um papel estratégico na economia estadual”. Sublinhavam que “Nacionalmente mais de 27 categorias já aderiram às paralisações”. “Vamos construir uma grande paralisação!” proclamaram. Porém, no dia 12 de julho, Metroviários pela Base publica outro boletim, “Porque os metroviários não paralisaram em 11 de Julho?” que começa: “Toda a cidade de São Paulo esperava a greve do metrô no dia 11, mas ela não ocorreu”. E logo explica: “Nos chamam de ‘pelegos’ porque votamos contra a greve....’”
Com razão: ao qualificativo “pelegos” acrescentaríamos “fura-greves”. Esta corrente ligada a LER, que agora formou uma Chapa 3 para as próximas eleições no sindicato, alega toda uma série de faltas por parte da liderança majoritária formada por partidários PSTU (CSP-Conlutas) e do PSOL (Intersindical), entre eles uma corrente sindical (Unidos pra Lutar, ardorosos morenistas, defensores de policias como “trabalhadores uniformizados) ligado à CST dentro do PSOL (cuja maior estrela é o ex-deputado paraense, Babá). Dizem que não houve nenhuma assembléia para discutir a mobilização, tampouco reuniões setoriais nas estações, nem sequer nos pátios. Alegam que houve muita desconfiança na base pelo fato da direção não fazer greve durante a campanha salarial deste ano. Tudo isto pode ser certo, porém não justifica para nada votar contra e furar a greve nacional.
O segundo boletim do Metroviários pela Base disse que na assembléia sindical do dia 10, havia “uma maioria que havia ido para votar contra a greve, vaiando desde o princípio as falas do PSTU”. Logo, “Depois de não construir nada ... o PSTU fez um verdadeiro teatro, defendendo a paralisação para não ficar à direita de todas as centrais sindicais burocráticas”. Sem dúvida, o PSTU é bem cínico, mas isto só indica que tem um mínimo de sentido de se defender no flanco esquerdo. A LER não. A sua oposição contra a greve, mesmo se utiliza críticas contra a falta de combatividade da liderança do PSTU é por definição uma crítica direitista, e a LER de fato “ficou à direita de todas as centrais sindicais burocráticas”.
O mesmo boletim de MpB diz: “Não temos nenhum problema em fazer a discussão na base da categoria, entre todos os trabalhadores e ativistas, sobre se nossa votação contra a paralisação foi correta ou errada, e que a categoria diga se somos ‘pelegos’ como diz a ala majoritária da diretoria.” Muito bom, fazemos a discussão também fora do sindicato, porque furar a primeira ação sindical nacional ligado às Jornadas de Junho é um assunto de importância maior. Podemos começar com que o jornal do Partido de Trabajadores Socialistas (PTS) argentino, principal partido da Fração Trotskista, a corrente internacional que a LER integra, La Verdad Obrera (18 de julho), publicou uma nota onde informa:
“O Metrô [de São Paulo] não parou porque, como vimos, não basta que a liderança sindical do PSTU e do PSOL digam que a “burocracia está conosco’ e que ‘vai parar o país’.”
A nota desonesta do PTS silencia que a corrente sindical ligada à LER votou contra a greve.
Por que o fizeram? Boa pergunta. Pode ser que tenha vários fatores, mas desde fora já podemos citar um elemento fundamental. A política da LER em geral é o que Lênin chamou de seguidista (khvostism no russo) para descrever a atividade dos “economicistas” no começo do século XX que sempre seguiam atrás o movimento de massas. A versão da FT é se integrar num movimento frente-populista (por exemplo, “Fora Cabral”) enquanto apresenta uma variante de “esquerda” de seu programa ao invés de defender o programa da revolução socialista, como é a tarefa de um partido da vanguarda operária. Dependendo das circunstâncias concretas, este método pode atrair recrutas, mas é incapaz de liderar a luta.
Normalmente a LER procura empurrar à esquerda o PSTU e Conlutas: seu programa poderia resumir-se assim, obrigar o PSTU/Conlutas a lutar. Isto reflete as origens da FT na corrente liderada pelo pseudo-trotskista argentino Nahuel Moreno, cujo principal representante hoje é o PSTU. Moreno fez sua marca registrada ao adotar a plumagem e a roupa de qualquer movimento em voga, seja peronismo, maoísmo, guevarismo, sandinismo, tudo menos o trotskismo. Com este propósito a LER qualifica o PSTU/Conlutas de “centrista” quando na verdade é completamente reformista, submetido ao capitalismo. Porém, neste caso a LER - que na realidade é centrista, usando palavras revolucionárias para disfarçar uma política oportunista – seguia detrás da massa dos trabalhadores com consciência puramente economicista (trade-unionista diria Lênin).
Votar contra a greve no Metrô paulistano é um passo extremo para a LER, que às vezes imita uma postura revolucionária, como sobre a questão de se opor à polícia – posição tomada emprestada da Liga Quarta-Internacionalista (LQB) e da Liga pela Quarta Internacional (LQI) da qual somos a seção brasileira (ver nossa polêmica contra o PSTU, que pretende que os policiais seriam “trabalhadores uniformizados”, “O conto de fadas da polícia ‘amigo do povo’”). Mas por isto mesmo deve servir de alerta das conseqüências de sua política seguidista geral.
Toda e todo militante da Liga Estratégia Revolucionária que sinceramente luta pela revolução socialista deveria lutar contra a política que levou ao vergonhoso voto contra a greve no Metrô de São Paulo, e investigar as raízes para chegar ao autêntico trotskismo. ■