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maio de 2012 O boom do governo
Lula-Dilma paralisa a esquerda
frentepopulista
Brasil se prepara para as
Olimpíadas da
militarização reprimindo os
trabalhadores
Policiais militares às ordens do governador assassino Geraldo Alckmin tiram sobre os moradores em operativo de despejo na favela Pinheirinho em São José dos Campos, SP, 22 de janeiro. (Foto: Reuters) Lutamos pela revolução socialista internacional O ano
de 2011 ao redor do mundo foi um ano de
convulsivos levantamentos populares, de lutas
operárias, de rebeliões estudantis e
da juventude O
vendaval de revolta que sacudiu o Oriente
Médio e África do Norte soprou nas
costas meridionais da Europa (movimento dos
“indignados”), na América Latina (luta
estudantil no Chile) e América do Norte
(movimento Ocupa). Os ventos da luta de classes
estenderam do Egito à Espanha (greve geral
em março) e até aos EUA (lutas
contra ataques rompesindicatos em Wisconsin e
Washington). Porém, no final das contas, as
classes capitalistas preservam seu domínio
e se preparam para intensificar sua investida
contra explorados e oprimidos. A
mídia burguesa apresenta o Brasil como um
caso excepcional. O governo de Lula e sua
sucessora Dilma Rousseff aproveita o “boom” das
matérias primas para dar algumas migalhas
aos pobres, ao reduzir mediante seus programas
assistencialistas a pobreza extrema. Silenciam o
fato de que mais de 16 milhões de pessoas,
a grande maioria delas negros, ainda vivem com
renda mensal de menos de R$70; que só
alcançam elevar os mais pobres ao
nível de uma brutal pobreza “normal”; e que
os programas Fome Zero, Bolsa Familia e Bolsa
Escolar se financiam pelos cortes nos programas de
previdência e pensões. Neste
Primeiro de Maio de 2012, em meio da pior crise
econômica mundial em três quartos de
século, o combate dos trabalhadores contra
o arrocho salarial e os intensificados ataques
contra seus direitos continua ao nível
mundial. Em uma situação de grande
efervescência social, de fluxo e refluxos na
luta de clases, precisa-se mais que nunca uma
direção que supere o programa
meramente “democrático”, burguês,
para intervir nos acontecimentos com um programa
que se dirija à revolução
socialista internacional. O
imperialismo e seus súditos buscam sair da
crise usando novas máscaras Desde
2008 o mundo capitalista é sacudido por uma
crise financeira, levando a um profundo abalo nas
principais potências. Ela faz tremer os
fundamentos econômicos desde Wall Street
até a União Européia,
Japão, respingando no Norte da
África e outros importantes setores no
globo terrestre. É a maior crise desde a
onda contra-revolucionária que destruiu
a ex-URSS no começo dos anos 90, celebrada
pelo imperialismo como o “fim da história”,
que inaugurou a sua “Nova Ordem Mundial” com um
banho de sangue massacrando a
população do Iraque em 1991. Em 2003
invadiu o país mesopotâmico, nomeando
o Brasil de Lula seu xerife para América
Latina. O
chamado “Consenso de Washington” não foi
nada mais que um pacto entre as potências
imperialistas lideradas pelos EUA no periodo
pós-soviético para caçar ou
rebaixarem direitos e conquistas da classe
operária ao redor do mundo. Particularmente
na América Latina, uma crítica muito
limitada ao “neoliberalismo” ergueu governos
burgueses populistas de coloração
rosa social democrata e variados tipos de frente
populares de colaboração de classes
mas isso apenas
mascarou a miséria da classe
operária com reformas cosméticas ao
mesmo tempo em que buscam cooptar sua
liderança. Arquétipo é o
governo do Partido dos Trabalhadores no Brasil. A
partir de 2000 no palco teatral erguido abaixo da
linha do Equador na América Latina essa
política de “esquerda” foi usada para
agradar setores “populares” com apelos
étnicos e nacionalistas. Assim no Brasil o
“operário” Lula “o cara” se lança
como “bombeiro do FMI”, como nós da Liga
Quarta-Internacionalista do Brasil o denominamos.
Logo a seguir apareceu Evo Morales na
Bolívia, jactando-se de seu indigenismo
para desviar o descontentamento dos trabalhadores
indígenas na “guerra do gás” que
levou o país à beira de uma
revolução. Uma vez instalado no
governo, “Evo” fez alguns gestos nacionalistas
para logo reprimir os operários e
camponeses que o elegeram.
Nos
EUA, a eleição de Barack Obama e a
chegada do primeiro presidente negro à Casa
Branca, causou uma comoção ainda
maior. Com seu famoso apelo de “nós
podemos” procura atrair o descontentamento da
população norte-americana cansada de
anos de guerra no Oriente Médio e assustado
pela queda das bolsas que anunciou uma nova
depressão econômica, dando uma nova
cara ao monstro imperialista. Logo no Brasil e
Argentina vem o triunfo eleitoral da ex-
guerrilheira Dilma Roussef e a peronista populista
Cristina Fernández de Kirchner. Não
obstante seus apelos populistas, eles e elas
aplicam os mesmos remédios amargos usados
por seus antecessores os quais foram ditados do
FMI sobre seus iludidos eleitorado. Herdeira
do lulismo e da frente popular PT-PMDB e outros,
Dilma alcança atualmente cerca de 70% de
aprovação popular, segundo o
instituto burguês IBOPE. O segredo de seu
êxito é o continuísmo ao
programa orientado pelo FMI, implementado
inicialmente por Fernando Henrique Cardoso e
seguido por Lula, de ofertar cestas básicas
aos cerca de 10 milhões de
miseráveis brasileiros os quais continuam a
viver (sobreviver na verdade) na linha abaixo da
pobreza. Não obstante a queda da
população que sofre a “pobreza
extrema” (rendas mensais de menos de R$70),
segundo dados divulgados pela agência das
Nações Unidas PNUD, o número
de miseráveis que vivem na pobreza “normal”
tem aumentado,
atingindo quase um terço da
população brasileira, cerca de 47
milhões de pessoas. Outro
eixo do “segredo” de Dilma é a oferta de
créditos consignados a juros relativamente
baixos (em comparação ao passado
recente, quando os juros no Brasil foram dos mais
altos do mundo). Para extensos setores de
assalariados, particularmente servidores
públicos, isto produziu uma ilusão
de prosperidade devido a um crescente
endividamento da populaçao. Ao mesmo tempo,
junto com outros lucros resultados do “boom”
mundial na produção de
matérias primas, a política do
governo Lula-Dilma tem proporcionado um
paraíso para os banqueiros num contexto em
que cerca de quase 20% de empresas brasileiras
estão inadimplentes. No
campo, o agronegócio, poderosa
organização do latifúndio,
continua de arma em punho matando impunemente
lideranças dos camponeses. Somente no
Pará foram 219 mortes nos últimos
dez anos, segundo informa O Globo
(22/06/2011). Enquanto os latifundiários do Agronegócio
celebram mais uma vitória no Congresso. Ao
mesmo tempo em que aumentam os cadáveres, o
MST tem se convertido em um dos principais cabos
eleitorais petistas. Os pseudo-trotskistas
seguidores do defunto Ernest Mandel que chegaram a
indicar um ministro para cuidar da reforma
agrária brasileira, já há
muito engavetaram seu plano de
colaboração de classes entre o PT e
o agronegócio sobre um solo encharcado de
sangue. Militarização
contra oprimidos e explorados Para
a classe operária a vida não tem
sido menos cruel na cidade. Lula-Dilma tem tratado
o movimento de explorados e oprimidos como “caso
de polícia”.Tropas brasileiras treinadas no
Haiti, favelas e morros cariocas com sua
versão de UPPs (Unidades de Polícia
Pacificadora), sob a liderança do
Palácio do Planalto e o Palácio da
Guanabara, tem ocupado militarmente extensas zonas
com vistas de submeter ou expulsar a
população pobre em sua maioria
negra. As
UPPs ganham a cada dia novas versões e
estendem a militarização contra o
movimento operário ao redor dos estados no
Brasil. Reprimiram com rigor estudantes
manifestantes da Universidade de São Paulo.
Enquanto as UPPs rondam o movimento
operário e estudantil, de oprimidos e
explorados na cidade. Estendem a crescente
militarização, fazendo a mais
recente vítima os ocupantes de terras em
Pinheirinho em São José dos Campos
(SP). Na
verdade, a popularidade de Dilma e seu “boom” que
tanto assusta a esquerda brasileira
se
baseia em quatro pilares: 1) os programas sociais
de distribuição de bolsas; 2)
empréstimos consignados; 3)
militarização contra os movimentos
dos explorados; e 4) cooptação das
lideranças destes mesmos movimentos
distribuindo bilhões a rodo aos grandes
capitalistas na preparação da Copa
de 2014 e as Olimpíadas de 2016, oferecendo
pouco pão e muito circo. A esquerda reformista, com
sua política democrática (burguesa),
fica muda frente à política
econômica do governo Lula-Dilma.
Circunscritos no marco capitalista, só lhes
ocorre pedir “mais”. E a respeito à
ofensiva de militarização, só
querem “democratizar” a repressão.
Após de seu apoio à “greve” dos
bombeiros militares no Rio de Janeiro em junho de
2011, ao começo deste ano o Partido
Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e
sua falida Frente de Esquerda apoiam
frenética e massivamente os motins de
bombeiros e PMs. “Greve” dos PMs de Bahia?
Não, é um motim dentro do
aparelho repressivo militar-policial, o punho
armado da burguesia. A LQB
e o Comitê de Luta Classista nos opomos
resolutamente ao movimento dos bombeiros armados,
muitos deles ligados às milícias que
aterrorizam as favelas do Rio (ver “Reformistas
a reboque da ‘greve’ dos bombeiros militares
cariocas” Vanguarda
Operária suplemento, junho de 2011).
Para nós, isto não é uma
posição nova ou de casualidade.
Desde nossos inícios, temos insistido que
policiais de todo tipo são o braço
armado do capital. Além disso, traduzimos
esta compreensão marxista e trotskista na
prática, quando nossos camaradas, eleitos
para a direção do Sindicato dos
Funcionários Públicos do
Município de Volta Redonda (SFPMVR),
desfiliaram os guardas municipais do sindicato. Os
pseudo-trotskistas do PSTU, PSOL (Partido
Socialismo e Liberdade) e semelhantes correntes
reformistas perderam o rumo há mais de uma
década com a vitória eleitoral da
frente popular burguesa do PT-PMDB e a chegada do
presidente Lula da Silva ao Palácio do
Planalto. Crescidos no PT e compartilhando sua
ótica parlamentarista, todos deram um apoio
“crítico”, à candidatura de Lula nas
eleições de 2001. Centristas como
Causa Operária e a LBI (Liga Bolchevique
Internacionalista) davam um apoio apenas
disfarçado, ao chamar por defender a
vitória de Lula quando na realidade setores
chaves da classe dominante apoiaram sua
eleição, depois de que o candidato
deu suas garantias ao capital com sua “Carta aos
Brasileiros”.
Posteriormente,
os vários componentes da esquerda
oportunista nunca tem sido capazes de apresentar
uma verdadeira oposição ao governo
Lula-Dilma. Pelo contrário, sempre buscam
empurrar à esquerda o PT no poder, ou
não recebendo uma resposta positiva, buscam
construir uma frente popular bis. Os grupos
centristas como a LER-QI (Liga Estratégia
Revolucionária-Quarta Internacionalista),
mesmo quando criticam os reformistas sobre suas
posturas sobre a polícia ou outros temas,
recorrem à mesma “estratégia,”
tentando empurrar à esquerda o PSTU ou
PSOL. Os esforços de uns e outros sempre
tem sido coroados pelo fracasso. Uma
verdadeira oposição à frente
popular e aos social-democratas petistas gerentes
do capitalismo tem que intervir na luta de
classes, buscando mobilizar os trabalhadores para
derrotar os “bombeiros do imperialismo”. Enquanto
o PSTU, PSOL, PCO, LER-QI, etc. todos pedem
amavelmente ao governo para retirar
as tropas do Haiti, a LQB e o CLC tem lutado pela
expulsão
das tropas e dos PMs do Haiti e dos morros do
Rio pela
ação dos trabalhadores. Esta
política de oposição
classista foi avaliada mais de uma vez pelo
Sindicato Estadual dos Profissionais da
Educação do Rio de Janeiro (SEPE-RJ)
e pelo sindicato magisterial nacional, a CNTE. Os infelizes
reformistas, que jogam no mesmo campo do PT, ao
perceber a miséria de setores mais baixos
da população diminuir um pouquinho
fica sem bússola, sem rumo e sem assunto.
Não conseguem propor nada diferente entre
seu programa mínimo de reformas menores e o
programa máximo “socialista” que reservam
para as falas domingueiras. Amarrotados por sua
visão social-democrata de esquerda, recebem
cada vez menos votos nas eleições e
não avançam uma linha sequer em seu
projeito político que podemos sintetizar
como “outra frente popular é
possível.” Os
autênticos trotskistas propomos um programa
de transição, de medidas que apontam
os elementos chaves do domínio capitalista.
Com palavras de ordem como uma escala móvel
de salários e horas do trabalho, para
repartir o trabalho a todos e combater a
inflação, respondemos à crise
capitalista global, que tem atingido o Brasil
também. Ao defender a chamada pela
autodefesa operária e dos bairros pobres,
ligando a fábrica à favela, para
expulsar polícias e milícias
buscamos mobilizar os “batalhões pesados”
do proletariado para defender e fortalecer a
resistência dos pobres. Acima
de tudo, a tarefa central é a luta pela
construção de um partido
operário revolucionário baseado na
perspetiva trotskista da revolução
permanente. Um partido opérario o dos
trabalhadores genérico como defendem alguns
que falsamente se reclamam do trotskismo, seria
como máximo uma reedição do
PT “das origens”. Mas a experiência dos
governos petistas sublinha a impossibilidade de
conquistar as reivindicações
democráticas fundamentais como a
liberação nacional da garra do
imperialismo, a revolução
agrária e a democracia para os oprimidos e
explorados sem lutar por um governo
operário-camponês que faça a
revolução socialista internacional.
Eis aqui o programa da LQB, e da
Revolução Bolchevique de Outubro de
1917. ■ E-mail: internationalistgroup@msn.com |